LEIAM QUE VALE A PENA !!!
A MORTE DO JORNALISTA NÃO ME EMOCIONOU
Sinto
muito, mas francamente, não consigo me revoltar com a morte do
cinegrafista da tevê Bandeirantes. Sei que era ótimo sujeito, bom
companheiro, amigo de todos, etcétera e tal. Imagino o sofrimento de sua
família e o susto dos seus colegas. Mas, desculpe a franqueza, não dá
para juntar-me às carpideiras. Minha agenda de revolta e de pesar está
lotadíssima há muitos anos.
Antes
do cinegrafista, terei de lamentar as centenas de policiais que têm
morrido no combate ao crime, sem que a televisão dê a mínima.
E
as centenas de milhares de vítimas do crime, também ignoradas pela
tevê. Jovens, velhos, mulheres, crianças, pais de família diariamente
chacinados, e ninguém na mídia, nenhum cinegrafista, nenhum jornalista,
perde mais do que poucos, casuais segundos com eles, em curtas notas no
meio de frivolidades, futebol, fofocas, jabaculês e anúncios.
Lamento, mas o cinegrafista vai ter de entrar na fila.
E a fila é muito longa, a fila vem se formando há mais de duas décadas. Há mais de um milhão de mortos à espera.
Nesse
assunto de policiais, vítimas e criminosos, a mídia só faz três coisas:
difamar a polícia, ignorar as vítimas, e dar cobertura aos bandidos.
Por
que? Para entender, deve-se indagar quem são os caras da mídia. Com
certeza não se parecem com policiais, muito ao contrário. Também não se
parecem com as vítimas usuais do crime, gente regular, ordeira,
trabalhadora, gente simples que não tem nada de estroboscópico, de
celébriti, de roquenról, gente que não rende notícia nem ofusca nada.
Não, os caras da mídia são outra gente. Não fazem parte do nosso mundo,
aqui em baixo. Quem são, então, os caras da mídia? Numa escala, ou num
painel policial de reconhecimento, eu os colocaria próximos dos
blaquebloques. São farinha do mesmo saco.
Se
duvida, veja o teor da mensagem repassada por dona Heloísa, escritora e
jornalista, aí abaixo. Ela relata conversa telefônica com um colega
jornalista, perplexo e assustado, que caiu na real e desconfiou - enfim!
- que há algo errado. O que, exatamente? Vejam o que diz Heloísa, ou
melhor, o que Heloísa diz que o cara disse:
- Recebi o telefonema de um amigo da TV Bandeirantes, muito abalado com a morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um morteiro disparado pelos black blocs na manifestação do dia 6 de fevereiro. Claro que todos nós — a sociedade civil e especialmente nós, jornalistas — estamos chocados com a história. Mas uma frase de meu amigo me chamou a atenção:
- “Fico me perguntando se não devíamos ter sido mais duros desde o início, se não devíamos ter denunciado com mais vigor esses vândalos”, disse ele. Aí está: talvez haja, nessa morte, mais do que a sensação de perplexidade e revolta que sentimos quando ficamos sabendo, por exemplo, da morte de alguém vítima de bala perdida. Os comentários que tenho ouvido me passam a impressão de que, de alguma maneira, nos sentimos culpados.
- Desde que começaram os movimentos de junho do ano passado, temos assistido à crescente violência nas manifestações. Essa escalada de violência tem sido atribuída quase sempre à maneira truculenta de agir por parte dos policiais. Mas, por maior que seja o despreparo do aparato policial, há vândalos agindo livremente nas ruas durante esses atos, saindo com o objetivo puro e simples de destruir, sem qualquer reivindicação a movê-los.
- Jovens advogados, políticos progressistas, instituições que sempre defenderam os direitos humanos, todos têm saído em defesa dos manifestantes, na presunção de que, entre perseguidos e policiais, os primeiros têm sempre razão. Mas os black blocs, ou seja lá que nome tenham, vinham dando sinais nos quais devíamos ter prestado mais atenção: havia tintas neonazistas no comportamento deles, inclusive na hostilidade à imprensa.
- Mas parecia retrógrado, uma coisa velha, de direita (como se dizia antigamente), ser contra os manifestantes. Poucos de nós, na imprensa, tivemos coragem de escrever contra eles com a força necessária. Afinal, como defender policiais e governos suspeitos, logo nós, que já trabalhamos sob censura e combatemos a ditadura? Melhor ficarmos quietos, em nome da democracia. Em nome do direito à livre manifestação — mesmo com bombas e pedras.
Pois
é. Há muito, muito tempo, os "jovens advogados", os "políticos
progressistas" e as "instituições" ligadas ao rendoso negócio dos
direitos humanos, têm apoiado e defendido baderneiros e bandidos, na
presunção de que, se são enfrentados pelos policiais, é porque têm
razão.
Leia
novamente, com toda a atenção, o parágrafo 4 acima. Segundo os caras da
mídia, se alguém é perseguido pela polícia, deve-se presumir que está
do lado certo, que é o mocinho do filme. Se é assim, só podemos concluir
que, na cachola de gente como Heloisa e seus amiguinhos, a Polícia é a
institucionalização do Mal. Ora, se a Polícia é o Mal, então quem está
contra ela é o Bem. Portanto, quem é perseguido pela polícia,
automaticamente é Bom. Ou seja: bandidos, tarados, viciados, anormais,
criminosos, são Bons. E reciprocamente, as vítimas e as pessoas comuns -
os burgueses, ou a classe média, na concepção desses caras - são maus.
Se
alguém duvidar dessa lógica, leia Fucô - aquele boiola francês, autor
do célebre livro "Surveiller et punir". Fucô é leitura obrigatória dessa
gente. Ao raciocinar desse modo torpe, os caras da mídia, os jovens
advogados, os políticos e os "ongueiros", não fazem senão repetir o
catecismo do Fucô. E, se não for o Fucô, pode ter certeza de que há
toneladas de outros autores semelhantes ao Fucô. Esse negócio rende,
meu.
Deu
para entender o critério moral dos jornalistas, dos jovens advogados,
dos políticos progressistas e das ongues de direituzumanos? Deu para
perceber quão pervertida, quão depravada é a consciência dessa gente?
São
esses caras, com esse tipo de moral e essas noções de ética
profissional, os que mandam na política, advogam, defendem direitos
humanos e fabricam notícias. Só isso já seria suficiente para revoltar
qualquer um. Mas o trecho acima citado tem outras pérolas de estupidez.
Heloísa
- ou o cara que ligou para a Heloísa - diz que os blaquebloques no
começo até pareciam gente amiga, mas depois foram mostrando as unhas,
até o ponto em que surgiu o primeiro sinal de alarma: mostraram "tintas
neonazistas" no seu comportamento, "inclusive na hostilidade à
imprensa".
Anotem: tintas neonazistas.
Na
dúvida, dei um passeio pelos feicebuques dos moleques e não vi nada,
absolutamente nada de "nazismo" nem de "neo" (as aspas são por conta da
asnice).
Ao
contrário, o que vi foi unanimidade comunista ou anarquista. Formas
toscas de anarquismo, comunismo de sarjeta, que mal disfarçam o que há
por trás: ressentimento, frustração e ignorância. Mas serve para
comprovar que ali não existe nada de "neonazismo".
Heloísa,
Heloísa: será que esse teu amigo da tevê Bandeirantes é tão burro, mas
tão burro, que depois de Stalin, do Gulag, do genocídio dos culaques, de
Mao Tse-tung, do Pol Pot, depois de toda essa longa saga tão fartamente
documentada de covardia, miséria, ignomínia e opressão, será que esse
cara não consegue criar coragem para reconhecer que os blaquebloques são
simplesmente... respire fundo e ouse: comunistas?
Para que atribuir-lhes tonalidades neonazistas, quando a sua ideologia está na cara, explicitamente declarada?
Verdade
seja dita. O amigo da Heloísa parece sinceramente chocado com o
comportamento dos blaquebloques. Sente-se traído em sua confiança.
Nunca
lhe passou pela cabeça que os moleques, continuamente doutrinados na
revolta e na violência, pudessem um dia, motivados pela revolta,
praticar a violência. Que coisa. Vivendo e aprendendo.
De ontem para hoje, os jornais e a tevê resolveram entrar mais fundo no problema dos blaquebloques.
Afinal,
os moleques são apenas executores. Indignados, os jornais, a tevê e os
políticos querem, agora, incriminar os autores intelectuais do crime.
Querem fuçar para descobrir quem os financia, quem os doutrina, quem
prepara o ambiente e cuida da horta onde brotam e nascem os revoltados.
Se
farejarem e fuçarem em todos os cantos, talvez verifiquem que esse
ambiente de ressentimento e frustração, esse clima de revolta, é parte
essencial do esquema de poder no qual prosperam a mídia e os políticos.
Há mais de vinte anos vocês vêm ensinando a molecada o caminho da
revolução. Para vocês, que estão por cima, revolução é isso aí mesmo,
numa boa.
Mas
para os moleques, revolução é o único jeito de chegar lá, de ser alguém
na vida, sem ter de passar pelo cada vez mais longo e impossível
caminho do estudo, da disciplina, da civilidade, da honra e do
trabalho.
Os
moleques, exasperados, perplexos e sem futuro, querem a sua vez.
Afinal, não foi assim mesmo que todos os que hoje mandam no Brasil
começaram a vida?
Não
foi na rua, enfrentando a polícia? Não foi na malograda aventura da
guerrilha e do terrorismo que essa gente venceu na vida? Para que
estudar e trabalhar? Qual a vantagem de ser disciplinados e bem
comportados, num mundo em que roqueiros, drogados, tatuados, vândalos e
depredadores merecem tanto espaço na mídia e na tevê?
Portanto,
se quiserem descobrir quem está por trás de tudo, não precisam procurar
tanto. Olhem-se uns aos outros. São vocês mesmos os maiores
responsáveis.
Mas
é claro que jamais reconhecerão esse fato, porque os obrigaria a
cometer o haraquiri brasileiro, que consiste em enfiar a cabeça num vaso
sanitário e acionar a descarga, em praça pública. Esse espetáculo, sim,
eu gostaria de assistir.
Pois
é, Heloísa e seu amigo: vocês ainda não viram nada. Continuem a posar
de revolucionários. E mais: continuem a difamar as Polícias Militares e a
odiar o Exército. Vão em frente na defesa dos bandidos. Continuem a
acochambrar blaquebloques, sem-tetos, sem-terras, craqueiros, paradas
guêis, e vão fundo. Faturem tudo o que puderem com seus jabaculês
culturais. Riam das vítimas do crime. Sonhem com a liquidação da
burguesia e dos ruralistas como classe. Brinquem com fogo.
Não, não pensem que estou pensando em golpe militar. Para quê? Vocês não merecem tanto.
Só espero que não chegue o dia em que venham a clamar por alguma intervenção salvadora, e não tenham resposta.
AC Portinari Greggio
São Paulo, SP
Fonte: A Verdade Sufocada. Disponível em
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