domingo, 9 de março de 2014

São Paulo, capital da segurança




São Paulo, capital da segurança
Folha de S. Paulo - 09/03/2014
São Paulo é a capital menos perigosa do Brasil. Pelo menos, tem a menor taxa de homicídios, de longe. Para os paulistanos, vai parecer piada ou mentira. Não é.
A incredulidade dos moradores da cidade tem fundamento. Ainda em 2001, a capital paulista era a quinta cidade mais perigosa do país. A taxa de homicídios era cinco vezes maior. Muita gente perdeu parentes e amigos no morticínio, ou disso teve muita notícia.
Neste século, a baixa do número de homicídios em São Paulo foi notável. Trata-se de um sucesso dos governos tucanos, fracos em educação ou transporte, por exemplo.
O dado não é novo, embora ainda mal explicado e pouco conhecido, pois neste ano muito tem se falado da "violência descontrolada" na cidade, uma arenga autoritária que deve ser criticada, ainda mais em ano de eleição.
A taxa de homicídios no Brasil ronda os 27 por 100 mil habitantes desde 1997-98 (13,5 por 100 mil no Estado de São Paulo). Excluindo São Paulo, a média brasileira vai a 32 por 100 mil.
Além de São Paulo, sete Estados conseguiram baixar sua taxa de homicídios, mas para níveis ainda comparáveis aos dos seis ou sete países mais violentos do mundo.
Neste século houve uma tendência de homogeneização das taxas de homicídio pelo país. Estados mais violentos em geral ficaram mais pacíficos, e vice-versa. Estados nordestinos, mais tranquilos do que São Paulo em 2001 (com exceção de Pernambuco), agora experimentam morticínio maior, assim como Minas e Paraná.
Como dá para perceber, não há relação entre nível de renda ou desigualdade e taxa de homicídios (o que não quer dizer que violências não têm nada a ver com pobreza e desigualdade, a depender dos tipos de urbanização, cultura, padrões de migração etc. O assunto é bem complicado).
O que houve em São Paulo? O desemprego caiu, a renda cresceu etc. Mas tudo isso aconteceu no resto do Brasil também. Estudos preliminares indicam que a taxa de prisões e encarceramento esteve associada à redução do morticínio paulista, assim como a apreensão de armas e campanhas de desarmamento.
Mais difícil de medir, o trabalho da polícia se tornou mais inteligente, planejado a partir de estatísticas. Ainda mais difícil de medir, mas relevante, a organização da sociedade ajuda. Isto é, associações comunitárias e outras organizações sociais trabalham de modo a evitar as oportunidades de crime.
São Paulo ainda é uma cidade violentíssima. No Reino Unido, um dos países mais violentos da Europa Ocidental, a taxa de homicídios é 2 por 100 mil. Nos Estados Unidos, o país rico mais violento do mundo, 5 por 100 mil. Em São Paulo, a taxa anda em torno de 12 por 100 mil.
Ainda assim, a capita paulista é mais ou menos tão perigosa quanto Dallas ou Houston e muito mais segura do que Nova Orleans ou Detroit (ambas com 42 por 100 mil). Para constar, a taxa de Nova York está em 4 por 100 mil; a de Los Angeles, mais parecida com São Paulo, em 6,6 por 100 mil.
Os dados brasileiros citados aqui vão até 2011, último ano em que é possível fazer comparações confiáveis. Na maioria, foram retirados do "Mapa da Violência", do sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, grátis na web. 

Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2014/03/1422783-sao-paulo-capital-da-seguranca.shtml acesso em 09 mar 2014.
 



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