quarta-feira, 26 de março de 2014

Ousadia tem de ser enfrentada - por Luiz Eduardo Pesce de Arruda

Ousadia tem de ser enfrentada

  • Imprimir
Detalhes 
Publicado em Terça, 25 Março 2014 20:54 
Escrito por Luiz Eduardo Pesce de Arruda
Putin: ódio aos nazistas, mas comportamento semelhante. / Alexander Demianchuk/Reuters
Ele chegou ao poder democraticamente, com grande apoio popular, com a ambição é devolver sua nação, outrora potência mundial, ao patamar anterior. Acha inaceitável o modo como as grandes potências ocidentais têm tratado, com desdém e desprezo, sua Pátria.

A experiência anterior em campo mostra que é pessoalmente corajoso. Não permite que questões familiares interfiram em sua missão e, a despeito de estimular o culto à personalidade pela mídia, não se mostra vaidoso a quem o conhece pessoalmente. Alguns dizem que ganhou dinheiro com direitos autorais, mas ele nega ser rico, exceto pelo fato de contar com o apoio e lealdade de seu povo.

A afirmação encontra respaldo nas pesquisas de opinião, pois goza, no cenário interno, de considerável popularidade, com altas taxas de aprovação. Fez dos jogos olímpicos uma oportunidade para mostrar ao mundo a superioridade de seu povo e de sua nação. Gastou muito além do que a situação econômica nacional recomendaria, para remodelar completamente não só as áreas de práticas desportivas olímpicas, mas toda a infraestrutura urbana da cidade-sede.

Sabe jogar no limite e, para que a nação alcance sua antiga glória, não hesita em desafiar o direito internacional e eliminar opositores. Valendo-se de milícias armadas, fanaticamente devotadas à nação, de agentes infiltrados e de políticos locais simpáticos à sua causa, prepara um plebiscito, em que os eleitores votarão sob o constrangimento das armas, e por meio do qual tentará dar um verniz de legitimidade à anexação do território de um vizinho militarmente mais fraco, cuja população é na maioria leal ao líder em questão.

Há grande expectativa dessas populações, que se reconhecem historicamente ligadas pela língua, história e cultura à Nação do grande líder, em retornar ao regaço da pátria-mãe, pois esse condutor viril e articulado conseguiu, em seu país, bons resultados na economia, ampliou os empregos e reduziu a pobreza, além de trazer estabilidade política.

Seus oponentes, por outro lado, caracterizam várias de suas ações como antidemocráticas, em especial na feroz repressão a seus opositores. Para observadores externos, a nação está em "um longo processo de regressão graças à mudança de um governo híbrido para um regime autoritário. Entende que o modelo democrático ocidental está corroído e decadente e que as lideranças das nações mais ricas não terão apoio interno da opinião pública para optar por uma resistência vigorosa, que poderia degenerar em confrontação militar, pois reconhecem que a antiga potência ainda detém um expressivo arsenal bélico.

Para evitar a guerra, as nações ocidentais abandonarão o território anexado à própria sorte, fecharão os olhos a violações do direito internacional e dos direitos humanos e prometerão punir o imperialismo com vagas sanções econômicas, que na prática não resultarão em nada.

O sucesso retumbante dessa aventura estimulará o líder a ousar outras vezes, até que outro líder, de igual coragem pessoal e grande estatura moral resolva enfrentá-lo, ainda que sozinho. Quanto mais tempo passar, haverá mais sangue, suor e lágrimas , até que seja finalmente contido. Entretanto, ele sabe de suas limitações. E se for enfrentado com energia neste momento, retornará ao status anterior. E o custo será bem menor.

Este artigo refere-se a Adolf Hitler e ao “Anchluss” e está ambientado em 13 de março de 1938, quando a Alemanha anuncia oficialmente a anexação da Áustria e a converte numa província do III Reich. Em 10 de abril daquele ano, um referendo avaliza a anexação com 99% de aprovação da população.

Poderia, porém, referir-se a uma situação vivida hoje na Ucrânia, quando Putin anexa a Criméia. Putin nasceu em Leningrado em 1952. Seu pai, Vladimir Spiridonovitch Putin, participou da chamada "Grande Guerra Patriótica", e ficou gravemente ferido. Sua mãe, Maria Ivanovna Shelomova, trabalhava em uma fábrica, e sobreviveu ao cerco alemão, durante a batalha de Leningrado.

Putin, até por origem familiar, odeia o nazismo. Mas não há como negar que suas condutas lembram o "Anchluss" da Áustria. É surpreendente como passa o tempo, mudam as ideologias, mudam as nações e os líderes, mas os vícios e virtudes continuam os mesmos. É só aprender com a História, que Cícero diz ser a “testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida”.

Luiz Eduardo Pesce de Arruda é coronel da reserva da Polícia Militar e professor universitário.

--

Nenhum comentário:

Postar um comentário