domingo, 14 de dezembro de 2014

Novos blindados da PM


14/12/2014 12h03 - Atualizado em 14/12/2014 12h03

PM terá blindados com jatos d'água, gás e até tinta em manifestações

Veja imagens dos veículos feitos em Israel para conter atos violentos em SP.
Em março, polícia deve receber blindados, que custarão R$ 35 milhões.

Kleber Tomaz Do G1 São Paulo

Blindados  (Foto: Reprodução / Divulgação Polícia Militar)
Blindados Guarder serão usados pela PM para conter manifestantes violentos (Foto: Divulgação/Polícia Militar)

Os 14 blindados israelenses que eram previstos para conter atos violentos durante a Copa do Mundo só devem chegar a São Paulo em meados de março de 2015, segundo estimativa da Polícia Militar (PM), e sair às ruas a partir de junho. Adaptações exigidas pela corporação nos veículos foram algumas das razões do atraso na entrega. A Defensoria Pública criticou a aquisição dos veículos (leia mais abaixo).

Estão sendo feitos três modelos diferentes de blindados. Quatro veículos serão munidos com canhões de jatos de água, tinta e gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes violentos. Outros quatro serão exclusivos para transporte de policiais, e mais seis vão ser usados pelos batalhões e outras tropas de elite para enfrentar criminosos, entrar em locais de difícil acesso e áreas de risco, como favelas.

Pela frota, a PM pagará um total de R$ 35,2 milhões a duas empresas de Israel. Elas ganharam licitação internacional e fabricam os carros para serem usados pelo Comando de Policiamento de Choque.

Segundo a polícia, os blindados que lançarão água e armas químicas serão usados pelo 2º e 3º batalhões de choque da PM contra ativistas violentos, black blocs – mascarados adeptos da depredação do patrimônio público e privado como forma de protesto – e vândalos durante eventuais protestos no estado.

De acordo com a PM, os jatos de água e gases serão usados para reprimir manifestantes que partam para o 'quebra-quebra'. A água ainda terá a função de apagar incêndios. A tinta será lançada contra suspeitos de vandalismo para facilitar a identificação deles numa posterior detenção. Esses quatro veículos ainda possuem uma espécie de pá, na frente, para eliminar obstáculos e desobstruir vias (veja abaixo detalhes sobre os veículos).

Apesar de ser considerada uma necessidade antiga, a compra foi agilizada por causa das manifestações populares de junho de 2013. Segundo a PM, ocorreram 679 protestos na capital em 2013, contra 243 até novembro deste ano. A licitação foi no fim do ano passado.

De lá para cá, policiais e ativistas ficaram feridos durante confrontos nas manifestações, gerando críticas de órgãos de direitos humanos. Pelos números da PM, 54 policiais foram machucados nesses últimos dois anos. Procurada para comentar o assunto, a Defensoria Pública não soube informar quantos manifestantes foram feridos, mas questionou a atuação da PM nos atos.

A defensoria é contrária principalmente ao uso de balas de borracha pela polícia. O órgão luta na Justiça pelo fim do uso do artefato nos protestos. Por enquanto, a decisão judicial é favorável à PM. A Assembleia Legislativa de São Paulo, no entanto, aprovou no início deste mês uma lei que proíbe o uso do armamento. O projeto seguiu para sanção, ou veto, do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Quatro veículos Wolf foram comprados por R$ 5,6 milhões (Foto: Reprodução / Catálogo da Hatehof )
Quatro veículos Wolf foram comprados por R$ 5,6
milhões (Foto: Reprodução / Catálogo da Hatehof )

Segundo a corporação, a bala de borracha poderá ser usada nas manifestações, caso elas se tornem violentas, mas somente como último recurso. Com a vinda dos novos blindados, a PM está desenvolvendo procedimento para que os veículos sejam empregados antes que qualquer disparo seja feito pelos policiais. Para os oficiais, os carros serão mais uma alternativa não letal para evitar agentes e manifestantes feridos nos protestos.

"O uso dos blindados vai colocar mais uma ‘fase menos letal’ antes do contato físico da tropa com vândalos", disse o capitão Valdinei Arcanjo, comandante da 2ª Companhia do 2º Batalhão de Policiamento de Choque da PM.

'Absurdo'
A defensoria, que entrou com ações judiciais contra a atuação da PM nas manifestações por considerar que houve excessos, se mostrou contrária a compra dos blindados. "O uso da bala de borracha já é um absurdo, e esses tanques também são absurdos. Eles afrontam o direito de manifestação", disse o defensor público Rafael Lessa, coordenador do núcleo de direitos humanos da Defensoria Pública.

Apesar de criticar a aquisição dos blindados, Lessa disse que primeiro é preciso saber como eles serão usados para decidir se a defensoria irá tomar medidas judiciais. "Estamos cientes de que a PM vai adquirir um blindado com jato de água com poder fortíssimo de pressão. Ele não vai atingir somente aquela pessoa que cometeu algum ato de vandalismo, ele vai atingir uma manifestação inteira, legítima e pacífica”, disse.

O defensor também criticou o uso de gás lacrimogêneo e tinta. "Depois a PM vai correr atrás de gente pintada, que não tem nada a ver com vandalismo. Vai enquadrar todo mundo e restringir a liberdade. Esse equipamento não se justifica."

"A PM não vai impedir a manifestação pacífica. Só não irá permitir que uma manifestação fuja da ordem e descambe para a violência generalizada, como ocorreu em outros atos já vistos, com depredações e vandalismo", rebateu Arcanjo. Neste semestre, ele e outros três oficiais foram ao Chile fazer um treinamento com a polícia do país para contenção de tumultos, com veículos similares aos que estão sendo comprados de Israel.

"Precisávamos de veículos grandes para transporte de tropa, médios para incursões em áreas de risco e para combater criminosos, e lançadores de água, tinta e gás para atuar em atos violentos protagonizados pelos black blocs", disse o capitão Arcanjo.

Fabricação
Os blindados estão sendo fabricados em Israel para a PM de São Paulo, que exigiu uma série de adaptações – um dos motivos de atraso na entrega, segundo a corporação. Parte dos veículos já é usada por outras policiais no mundo e a Organização das Nações Unidas (ONU), mas os carros que virão à capital paulista terão modificações.

"Tinham ajustes que precisavam ser feitos para atender às necessidades da polícia paulista", disse Arcanjo.

Veículo com canhão de jato d´água (Foto: Reprodução/ Catálogo da Hatehof )
Veículo com canhão de jato d´água
(Foto: Reprodução/ Catálogo da Hatehof )

Resistentes a tiros de fuzil, coquetéis-molotov, rojões e pedras, os blindados chegarão de navio em São Paulo. Como são produtos controlados pelo Exército, terão de ser vistoriados. Depois, receberão placas no Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Todos deverão vir camuflados com as cores preta e cinza alusivas à tropa de choque da PM.

Mas antes de saírem às ruas, os veículos passarão por testes e policiais receberão treinamento para operá-los. “Talvez possam estar prontos para atuar a partir de junho”, disse o capitão.

A Hatehof Industries (Brand Group) Ltd. irá fornecer oito blindados – quatro deles com os canhões de jatos d'água, chamados de "veículos lançadores de água de controle de distúrbio". Eles custarão R$ 7,6 milhões. Os outros quatro são chamados de Wolf (Lobo em inglês) e podem levar oito policiais cada um. Valem R$ 5,6 milhões e serão utilizados pelos Comandos de Operações Especiais (COE) e Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).

A Plasan Sasa Ltd. fornecerá seis veículos para transportar 24 policiais cada um. Chamados provisoriamente de Guarder (algo como 'Protetor', mas que terá o nome redefinido pela PM), eles custarão mais de R$ 22 milhões e serão destinados ao "controle de distúrbios civis”.  Também terão uma espécie de pá na frente, que permite retirar obstáculos para desobstruir vias. Policiais do 2º e 3º batalhões de Choque irão operá-los.

'Zé Gotinha'
Os quatro blindados com canhão de água, gás e tinta vão substituir os veículos Centurion para atuar em distúrbios urbanos. Três policiais poderão operá-lo: um motorista, um atirador e um comandante. Com tanque de capacidade em torno de 6 mil litros de água, o jato pode atingir alvos a até 60 metros de distância.

Segundo policiais ouvidos pelo G1, o Centurion foi aposentado na década de 1990 depois de apresentar problemas técnicos. A empresa fabricante faliu e a manutenção do blindado ficou comprometida. Numa greve de professores, o canhão d'água não funcionou e, em vez de um jato, saíram apenas gotas. Desde então, o Centurion passou a ser conhecido como "Zé Gotinha". Atualmente, o modelo é usado pela PM apenas para transporte de tropa.

Apelidado de "Zé Gotinha", Centurion passou a transportar tropas (Foto: Kleber Tomaz/G1)
Apelidado de "Zé Gotinha", Centurion passou a transportar tropas (Foto: Kleber Tomaz/G1)

Segundo a PM, o novo blindado d'água terá alto-falantes que alertarão os manifestantes violentos para se retirarem. Se a ordem não for obedecida, lançará água para o alto. Depois, caso haja nova recusa, os jatos serão direcionados aos pés dos manifestantes. E por último, se houver necessidade, diretamente no corpo. A pressão d'água é controlada em diversos níveis de intensidade, chegando até a derrubar pessoas, segundo demonstrações do fabricante na internet.


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