quinta-feira, 17 de abril de 2014

CARTA AO GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Carlos Alberto Camargo
Carlos Alberto Camargo 17 de abril de 2014 12:28
CARTA AO GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Senhor Governador.
A construção da sociedade e das instituições com que sonhamos só será possível se não nos esquecermos de que todas elas são, fundamentalmente, pessoas e não estruturas, e que só evoluem com a adoção de medidas que busquem o desenvolvimento humano. No que diz respeito à polícia, o único modelo compatível com a democracia é o de uma organização policial legalista e integrada à comunidade. Uma polícia transparente que respeite e proteja o cidadão, mas que tenha seus integrantes tratados pela sociedade e pelo governo também como cidadãos. 
A Polícia Militar é formada por profissionais que diariamente se superam, fazendo o extraordinário para melhor servir à população paulista, protegendo os cidadãos e enfrentando bravamente uma criminalidade cada vez mais violenta e perversa.
Por outro lado, desgraçadamente, seus integrantes têm salários absolutamente incompatíveis com uma condição mínima de sobrevivência digna, obrigando um número cada vez maior de policiais a viver nos limites da miséria. São inúmeras as esposas de policiais que, devido às condições precárias de moradia, não podem sequer secar as fardas fora de casa, com medo da represália dos bandidos que moram nas vizinhanças, principalmente porque, na maior parte das vezes, seus maridos estão ausentes, obrigados a fazer “bicos” fora do expediente, quando deveriam estar descansando no convívio familiar. 

De outra forma, como poderemos manter uma polícia de proteção da dignidade humana, estimulando permanentemente a vocação de seus integrantes para a defesa da cidadania, se estes policiais têm, a todo instante, sua própria dignidade vilipendiada, seja pelos baixos salários, seja pelas condições de trabalho, seja pelo não reconhecimento de seus sacrifícios. 
É evidente que a esses homens e mulheres, que mal conseguem prover o sustento de suas famílias, que se esgotam servindo à sociedade, em contato diuturno com vítimas de crimes, em condições de angústia, dor e sofrimento, e com criminosos cada vez mais ousados, poucas condições restam para preocupar-se com o seu próprio aperfeiçoamento. Nessas condições, eles estão trabalhando no seu limite.
E vemos, com tristeza e preocupação, governantes afirmando que investem na segurança pública porque compram armas e viaturas, como se esse tipo de investimento pudesse significar uma política de segurança minimamente inteligente, dispensando o investimento no fator humano das organizações policiais, no ataque às bem conhecidas causas sociais da criminalidade e no fim da impunidade.
É evidente que, quando o governo, nega ao policial militar o reconhecimento pelo seu corajoso e dedicado esforço, e ainda as ideais condições de vida e de trabalho, está, na verdade, comprometendo a auto-estima desse profissional, tão necessária à melhoria do homem, do serviço, da instituição e da própria sociedade.
A valorização do fator humano da instituição policial- militar é condição indispensável para a manutenção de uma polícia profissional, treinada e preparada emocionalmente para agir de maneira legalista, técnica e imparcial, levando equilíbrio às relações sociais. 
Atentar contra a dignidade e a auto-estima do policial militar é atentar contra a segurança dos cidadãos. A busca da excelência do serviço policial passa pela preocupação contínua com a melhoria, num processo que tem como motor a auto-estima do policial.

São Paulo, 17 de abril de 2014.
Coronel Carlos Alberto de Camargo

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Esperamos que ele leia.

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