sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Sanpaku



Sanpaku

José Geraldo Pimentel
Sanpaku é uma palavra em japonês que significa “três brancos” e define os olhos onde a área branca do globo fica visível também na região inferior ou superior, entre a íris e a pálpebra. (Fonte: Internet). Apresentar três brancos nos olhos é um estigma. Sinal de que morrerá de maneira trágica. Isso me assusta. Agora principalmente que dei para me observar no espelho. Lá vejo um velho decadente, decrépito, cada dia mais em baixa. Sem falsa modesta já me achei simpático. As fãs chegavam a repetir os trajetos por onde andava e descrevia nos meus textos. Teve uma que viajava com o esposo, um oficial da Aeronáutica, quando viu uma casinha à beira da estrada. “Para! Aquela casa é a cara do Pimentel!” E mandou-me uma foto. Na época meu hobby era a fotografia. Trocávamos figurinhas nesta área. Outra amiga se correspondia comigo por meios de versos. Amavam-nos, fazíamos sexo, em seus versos! Uma gaúcha chegou a se insinuar a se juntar comigo. Mas o meu reinado acabou. Bastou uma neta escrever num texto escolar que sua mãe viera para o Rio de Janeiro para ficar perto de seus pais que estavam velhinhos, precisando de cuidados, que eu cai na real. O espelho não engana! Os três brancos nos olhos estão ali me condenando a ter um fim trágico.
Passei por três situações de perigo. A primeira vez aconteceu na Praça XV. Seguia em direção ao Aterro do Flamengo quando o sinal fechou exato no momento que me aproximava. Um ônibus vindo da direita, resolveu cortar a pista sem dar tempo a que eu passasse. No momento só me restou uma saída. Acelerar e seguir em frente, já que se freasse, iria estourar a Kombi em que viajava com toda da família no meio do ônibus. Venci a disputa por um triz, sentindo a frente do ônibus quase tocar na traseira do meu veículo. Em outra ocasião voltava da Região dos Lagos quando penso dar uma parada estratégica em Iguabinha para um breve descanso. Não encontrei um ponto apropriado e fui em frente. Morria de sono. Logo adiante, num simples piscar de olhos, dormi ao volante e despertei com uma cutucada no braço dada por um dos filhos que viajava ao meu lado. Abri os olhos e percebi que entrava na pista contrária e ia de encontro a um veículo pesado que se aproximava. Nessas ocasiões o volante pesa uma tonelada. Manobrei o suficiente para abrir espaço para o outro veículo passar e voltei à minha pista. “Ufa!” Respirei aliviado. No último descuido estava em Madureira em companhia da esposa. No trecho que deixa a Av. Edgard Romero e entra na Estrada do Portela, resolvi atravessar a pista para seguir para a passarela que dá acesso à estação de Magno e o outro lado da Av. Edgard Romero, com o Mercadão de Madureira, etc. Tive o cuidado de observar um pequeno sinal que controla essa passagem. “Vamos!” Disse segurando o braço da esposa. Um ônibus avançou o sinal, correndo quase que paralelo a outro veículo, fechando a pista. Eu e a esposa ficamos ilhados no meu da pista. Segurei-a firme no braço, liberando a passagem do ônibus, e logo entrava em sua retaguarda para deixar o outro veículo passar. Nesse momento gelei!
Se gato tem sete vidas, eu que tenho três brancos nos olhos, pretendo ter atingido o limite da fatalidade e estar livre do estigma. Por falar em gato, a Ellen, a gata navegadora de minha filha Izabel Pimentel, passou por três situações de risco de vida, sobrando-lhe quatro vidas. Espero que ela viva muitos e muitos anos, porque fiquei seu fã e a quero no mundo dos vivos ainda muitos e muitos anos. Eu que sempre cuidei de cães, agora depois de velho me apaixonei por uma felina periguete baiana. Ela é demais! Mas a razão maior deste texto vai ficar no ar. Tenho tido pesadelos horríveis, sempre sendo abordado por marginais, que querem me atacar, e eu me defendo dando socos e pontas-pé. Estes pesadelos já me tiraram da cama várias vezes. Este ano de 2013, três vezes, pelo menos. Da última vez cai de ponta cabeça no assoalho, causando-me profunda irritação no couro cabeludo. Dor e queimação! Um dos últimos pesadelos vem acontecendo em plena luz do dia, acordado. Só em imaginar o esquecimento e falta de amparo que estão vivendo os nossos bravos guerreiros que cumpriram ordens superiores para exterminar a ação nefasta de um bando de terroristas e guerrilheiros que infernizavam o país, assaltando bancos e unidades militares, sequestrando embaixadores, assassinando pessoas, justiçando, inclusive, seus próprios comparsas que se insinuavam deixar o bando, e praticando atos terroristas em guarita de quartel e aeroporto civil, causa-me profunda revolta. Eu não teria estrutura para receber tanta ingratidão das autoridades militares e o desdém de meus colegas de farda. É nessas ocasiões que cresce na alma a fúria dos justos e transforma uma pessoa boa, em um criminoso sanguinário. Nos meus pesadelos eu vejo a Comissão Nacional da Verdade terminar seu trabalho, por sinal parcial, pois que só procura esclarecer um lado dos fatos, deixando de fora os militantes da luta armada, e fazer um relatório em que pede ao Congresso Nacional que reveja a Lei da Anistia. A jogada do governo comuno-petista é levar ao banco dos réus num tribunal de exceção os militares e policiais civis e militares, - denominados agentes do Estado, - e condená-los a longas penas, inclusive a prisões perpétuas. Não vou dizer como seria a minha vingança. Mas garanto que antes de sentar no banco dos réus levaria para o inferno junto comigo toda a comitiva que estivesse lotada num auditório festejando a mudança de rumo na Lei da Anistia. Não pouparia a Presidente da República, seu séquito de ministros e secretários especiais e organizações de direitos humanos, membros da Comissão Nacional da Verdade e de suas comissões filiadas, diretores de movimentos de sem-terra e suas variantes, representantes de movimentos de vândalos nos diversos seguimentos, movimentos estudantis, e, para fechar o circulo com chave de ouro, não livraria os comandantes militares, comandantes de regiões e departamentos alinhados com o governo, e toda uma plateia de delirantes que aplaudiam a vindicta contra os militares. A faxina seria ampla, geral e irrestrita! Como realizar este sonho? A imaginação é o infinito! Ninguém sobraria para contar a história! Talvez resida neste sonho a minha preocupação com os “três brancos” dos olhos. A tragédia pode estar anunciada!
Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 2014.



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