quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

IMPORTANTE LEMBRAR A CRISE DA FORÇA PÚBLICA EM 1961.



 Mario Ventura
Data: 16 de janeiro de 2014 08:55
Assunto: IMPORTANTE LEMBRAR A CRISE DA FORÇA PÚBLICA EM 1961.



53 a. das anotações de 16 de janeiro de 1961, em minhas memórias, numa segunda-feira: "Em meu lar, leio as notícias, tendo acompanhado pelo rádio o enterro dos dois sargentos do fogo, que por ordem das autoridades tiveram o féretro antecipado, causando viva antipatia na população. A situação na FP é a mesma, talvez até pior. Alguns meus colegas de 1959 e 1960, atualmente aspirantes, estão presos: UBIRAJARA PISANI, ESPÍRITO SANTO, JOSÉ LUSTOSA CARIBÉ, MOACYR ALVARENGA, LUÍS DE CASTRO, IGNÁCIO EDÉCIO STRAMA, SÍLVIO ANTÔNIO RISSI, HAMILTON COELHO. Alguns desses rapazes foram promovidos a Aspirantes em 15 de dezembro de 1960, já tendo essa grande desilusão, no início de suas missões.
JORNAL DA NOITE: EDIÇÃO DE 16 DE JANEIRO DE 1961
TRABALHADORES APOIAM O MOVIMENTO DA FORÇA PÚBLICA. NÃO FOI SUPERADA A CRISE NA FORÇA: HOJE A PASSEATA DE ESPOSAS E MÃES DOS SOLDADOS DA FP. APOIO DOS INSPETORES DA GUARDA CIVIL AOS COMPANHEIROS DA FORÇA (nota distribuída pela Diretoria do Centro Social dos Inspetores da GUARDA CIVIL – APOIO ÀS REIVINDICAÇÕES DA FP.
Pouco depois da meia-noite vários carros-transportes, completamente lotados de elementos da FORÇA PÚBLICA, deixaram o quartel do 2 º BP, da rua JOSÉ GETÚLIO, escoltados por quatro carros fortes do EXÉRCITO. Segundo informações colhidas pela reportagem, os oficiais presos estavam sendo transferidos para o FORTE DE ITAÍPU, em SANTOS, ou para o quartel do BARRO BRANCO.
A PRAÇA CLÓVIS BEVILÁCQUA foi transformada em praça de guerra. Armas poderosas foram colocadas nas imediações do QG do CORPO DE BOMBEIROS.
Encontram-se presos no 7º Batalhão, em SOROCABA, os seguintes oficiais; capitães – PEÇANHA, WILSON, PRESMAN e GUAICURU; tenentes – JATIR, HERMENEGILDO, MARTINHO, RENATO, BENVENUTTI, DIRCEU, GARIBE, PEREZ GIMENEZ e OTACÍLIO; aspirantes – WADIR, UBIRAJARA PISANI, ESPÍRITO SANTO, JOSÉ LUSTOSA, MOACIR ALVARENGA, LUÍS DE CASTRO, INÁCIO EDÉCIO, SILVIO ANTÔNIO RISSI e HAMILTON COELHO. Segundo informações colhidas pela reportagem os oficiais do 7º BATALHÃO, os CAPITÃES CÍCERO e BARREIRA, e os tenentes HÉLIO, PASCOAL, AIDAR, FOGAÇA, ERNANDES, NABUCO, MASCARENHAS e GUSTAVO, solidarizaram-se com os seus companheiros, razão pela qual, imediatamente, também foram considerados presos e incomunicáveis.
OFICIAIS DO EXÉRCITO EM TODOS OS POSTOS DE COMANDO DA FORÇA PÚBLICA – Esteve nos CAMPOS ELÍSIOS o comandante do II EXÉRCITO e outros militares – Mediação do CARDEAL – Problemas do aumento.
Transcorreu calmo o dia de ontem nos CAMPOS ELÍSIOS. Cerca das 14 horas, deu-se por encerrado o dispositivo conjugado de guarda do PALÁCIO, composto de elementos da FORÇA PÚBLICA, GUARDA CIVIL e EXÉRCITO. Assim, por alguns minutos, apenas elementos da Milícia voltaram a guarnecer o PALÁCIO, quando chegava a notícia lamentável da morte dos dois bombeiros, perecidos em trabalho. Em vista dessa circunstância, o governador CARVALHO PINTO determinou que a GUARDA CIVIL voltasse a policiar o palácio. Após manter demorada conferência com o governador do Estado, o INSPETOR OMAR GALVÃO, chefe da guarda civil, retirou-se dos CAMPOS ELÍSIOS, e pouco depois com ele voltavam inúmeros guardas civis, que foram distribuídos em derredor do PALÁCIO. Esses guardas, armados de sub-metralhadoras, segundo informou o INSPETOR OMAR GALVÃO, se revezavam com os colegas nos postos de sentinela, perfazendo um total de 300 elementos. Às 16 horas, foi suspenso o tráfego de veículos das ruas circundantes aos CAMPOS ELÍSIOS, desviando-se o trânsito para ruas paralelas, evitando-se, dessa forma, que os automóveis ou qualquer outra espécie de veículos passassem por demais próximos do PALÁCIO.
Depois de almoçar em companhia do deputado FELÍCIO CASTELANO, secretário particular do Secretário da Segurança e com outros elementos mais chegados, o governador CARVALHO PINTO observou rápido repouso, sendo que às 16 horas recebeu nos CAMPOS ELÍSIOS a visita dos generais STÊNIO DE ALBUQUERQUE LIMA, Comandante do II EXÉRCITO; ALTAIR FRANCO FERREIRA, chefe do Estado-Maior do II EXÉRCITO e do CORONEL OLDEMAR FERREIRA GARCIA, comandante da FORÇA PÚBLICA. Iniciou-se então uma reunião dessas autoridades com o governador, tendo a mesma se prolongado até às 18:40 horas, estando também presente o CORONEL DJALMA ARANTES, chefe da CASA MILITAR dos CAMPOS ELÍSIOS. Tratou-se na ocasião das medidas que vêm sendo tomadas com relação à crise, bem como dos relatórios enviados pelas várias unidades da FP, que davam notícia da passagem de comando para oficiais do EXÉRCITO. A passagem desses comandos, segundo apurou a reportagem, deram-se normalmente, sem que ocorressem quaisquer incidentes.
O CARDEAL dom CARLOS CARMELO DE VASCONCELOS MOTA, às 17 horas, esteve em reunião nos CAMPOS ELÍSIOS com o governador do Estado. O cardeal trouxe ao chefe do Executivo uma proposta de conciliação, oferecendo-se para servir de mediador na questão. Logo a seguir, o sr RUY MARCUCCI, chefe do Serviço de Imprensa do Palácio informava que o cardeal foi oferecer o seu apoio ao governador do Estado. Entretanto, tem-se notícia de que já no sábado o cardeal se oferecera para esse mister, sendo que no mesmo dia o senador LINO DE MATOS iniciava gestões de mediação. D. CARLOS CARMELO retirou-se do PALÁCIO DO GOVERNO por volta das 18 horas.
O DIÁRIO DA NOITE de 16 de janeiro de 1961, segunda-feira, também publicava reportagem sobre a morte dos dois bombeiros, que numa viatura do CORPO DE BOMBEIROS seguiam para SANTO ANDRÉ, onde lavrava um incêndio na avenida PEREIRA BARRETO. Eram os sargentos TOMÁS CLEODON MEDEIROS, de 34 anos, e ANTENOR GONÇALVES TEIXEIRA, de 25 anos. Receberam graves ferimentos os soldados JOSÉ PAULINO TORRES e ANTÔNIO MARTINS CARRASCO. Outros soldados tiveram ferimentos leves.
Ainda colho de minhas memórias: Passo boa parte na Delegacia de POÁ, escutando rádio, conversando com os soldados de serviço. Volto à casa de meus pais quando já passam das 17 horas. Justamente nesse instante, em SÃO PAULO, partindo do LARGO SÃO FRANCISCO, tínhamos a passeata monstro das mulheres, mães, filhos dos militares envolvidos nos acontecimentos da FP. Apresentavam-se maltrapilhos, descalços, num brado de fome. Será que o Governador não se sentirá constrangido  quando ver esse triste quadro ?
O JORNAL FALADO TUPI, com início às 22 horas, apresentava as notícias sobre a Passeata dos Familiares dos militares, sendo que 700 praças e oficiais foram recambiados para o CFA, onde estão presos. O EXÉRCITO continua a ocupar os postos chaves, com "ninhos" de metralhadoras em todos os lugares críticos, principalmente na PRAÇA CLÓVIS BEVILÁCQUA." 




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CORONEL PM MARIO FONSECA VENTURA
PRESIDENTE DA SOCIEDADE VETERANOS DE 32-MMDC
Rua Anita Garibaldi, 25 - Centro - SP
Fone: 3105 8541



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