
Mito da Caverna:
Uma reflexão atual
Por Pablo Fabiano Barbosa Carneiro
Platão utilizou a linguagem mítica para mostrar o quanto os
cidadãos estavam presos a certas crendices e superstições. Para lembrar,
apresento uma forma reelaborada do mito. A história narra a vida de
alguns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna e ficavam
voltados para o fundo dela. Ali contemplavam uma réstia de luz que
refletia sombras no fundo da parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um
dos habitantes resolveu voltar-se para o lado de fora da caverna e logo
ficou cego devido à claridade da luz. E, aos poucos, vislumbrou outro
mundo com natureza, cores, “imagens” diferentes do que estava acostumado
a “ver”. Voltou para a caverna para narrar o fato aos seus amigos, mas
eles não acreditaram nele e revoltados com a “mentira” o mataram.
Com essa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: a
sensível, que se percebe pelos sentidos, e a inteligível (o mundo das
ideias). O primeiro é o mundo da imperfeição e o segundo encontraria
toda a verdade possível para o homem. Assim o ser humano deveria
procurar o mundo da verdade para que consiga atingir o bem maior para
sua vida. Em nossos dias, muitas são as cavernas em que nos envolvemos e
pensamos ser a realidade absoluta.
Quando aplicada em sala de aula, tal alegoria resulta em boas
reflexões. A tendência é a elaboração de reflexões aplicadas a diversas
situações do cotidiano, em que o mundo sensível (a caverna) é comparado
às situações como o uso de drogas, manipulação dos meios de comunicação e
do sistema capitalista, desrespeito aos direitos humanos, à política,
etc. Ao materializar e contextualizar o entendimento desse mito é
possível debater sobre o resgate de valores como família, amizade,
direitos humanos, solidariedade e honestidade, que podem aparecer como
reflexões do mundo ideal.
É perfeitamente possível relacionar a filosofia platônica,
sobretudo o mito da caverna, com nossa realidade atual. A partir desta
leitura, é possível fazer uma reflexão extremamente proveitosa e
resgatar valores de extrema importância para a Filosofia. Além disso,
ajuda na formulação do senso crítico e é um ótimo exercício de
interpretação de texto. A relevância e atualidade do mito não
surpreende: muitas informações denunciam a alienação humana, criam
realidades paralelas e alheias. Mas até quando alguns escolherão o fundo
da caverna? Será que é uma pré-disposição ao engano ou puro comodismo? O
Mito da Caverna é um convite permanente à reflexão.
*Pablo Fabiano B. Carneiro é
professor de Filosofia e História Geral e do Brasil para Ensino Médio.
Coautor do livro “Coisas da Filosofia e Fatos Sociais”, Editora Allprint
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