domingo, 24 de julho de 2016

Rio vive clima de frustração às vésperas da Olimpíada

Rio 2016

Com promessas não cumpridas e obras inacabadas, Rio vive clima de frustração às vésperas da Olimpíada

Crises política e econômica, aumento de criminalidade e poucas melhorias de transporte deixam sensação diferente do quadro de esperança experimentado na  época em que cidade foi escolhida sede dos Jogos

Por: Carlos Rollsing e do Rio de Janeiro
23/07/2016 - 02h01min | Atualizada em 23/07/2016 - 21h16min
Com promessas não cumpridas e obras inacabadas, Rio vive clima de frustração às vésperas da Olimpíada ALESSANDRO BUZAS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Trabalhador pinta anéis olímpicos instalados na orla de CopacabanaFoto: ALESSANDRO BUZAS/FUTURA PRESS / ESTADÃO CONTEÚDO

Ondas de euforia dos tempos de bonança, quando a política e a economia nacional alcançavam o apogeu, levaram o Brasil a traçar planos audaciosos rumo ao seleto grupo das potências mundiais. O sedutor Rio de Janeiro, cartão-postal do país, era alicerce da estratégia. A fase era tão promissora que, em outubro de 2009, a Cidade Maravilhosa desbancou Madri, Tóquio e Chicago na disputa para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Um extenso legado para a população, a partir de investimentos que seriam feitos para receber o evento, era comemorado pelos então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, governador Sérgio Cabral e prefeito Eduardo Paes, que viviam a lua de mel do casamento entre PT e PMDB.

Um mês depois do anúncio do Comitê Olímpico Internacional (COI), a revista The Economist, uma das mais influentes do planeta, estampou na sua capa o Cristo Redentor em disparada, como um foguete, rumo ao céu, sob a manchete: "Brazil takes off". Em português, "Brasil decola".

A atmosfera otimista era reforçada, entre 2007 e 2010, pela descoberta do pré-sal, apontado como o passaporte do Rio para a riqueza, e o sucesso imediato das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas comunidades. A derrota do tráfico e a retomada do Complexo do Alemão pelo Estado, com o hasteamento da bandeira do Brasil na torre do teleférico, trouxeram sensação de ufanismo.

Hoje, quase sete anos após ser escolhido como sede olímpica, o Rio continua lindo, a zona sul segue charmosa e a Lapa mantém a vida noturna ardente. Mas a maré baixou. Às vésperas dos jogos, que terão início em 5 de agosto, o Estado amarga a pior crise da história, com reflexos severos na capital. A aliança entre PT e PMDB degringolou, os preços do petróleo despencaram e a economia local, dependente da renda da matéria-prima, entrou em colapso. Salários dos funcionários estaduais, inclusive dos agentes da segurança pública, são constantemente atrasados. As polícias se ressentem de equipamentos e as UPPs conheceram a derrocada. A violência na cidade disparou.

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A crise financeira levou caos a hospitais e três deles estiveram por fechar. Alguns dos investimentos do prometido legado olímpico foram deixados para trás e mesmo as obras mais elogiadas são alvo de ressalvas. A The Economist, em 2013, refez sua capa. A decolagem do Cristo Redentor falhara, ele estava caindo, de ponta-cabeça, e cuspia fumaça. "Has Brazil blown it?" (O Brasil estragou tudo?), indagava a manchete. A própria publicação tratou de responder em 2016, com uma foto de Dilma Rousseff cabisbaixa, sob o título "Brazil's fall", ou "A queda do Brasil". Estava demarcado o ciclo de ascensão e ruína da nação.

Mas a Olimpíada irá ocorrer e as apostas são de que, no terreno esportivo, o desempenho da organização será de sucesso. Foi assim no Pan-Americano, em 2007, e na Copa, em 2014. O problema está do lado de fora das arenas. E no futuro. Foram anos de preparação e, agora, percebe-se que o Rio, por motivações diversas e conjugadas, piorou.

— É como se você vestisse um terno muito bonito e, no caminho, ele fosse rasgando, rasgando e rasgando. Na hora da festa, você chega maltrapilho — diz o jornalista, escritor e ex-deputado federal Fernando Gabeira, radicado no Rio desde 1963.

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