quarta-feira, 9 de março de 2016

Um dossiê criminoso

UM DOSSIÊ CRIMINOSO DO 

PALÁCIO DO PLANALTO 

PARA TENTAR SALVAR O 

LULA. ERA O QUE FALTAVA 

PARA LAVA JATO PEGAR A 

QUADRILHA INTEIRA.

As tentativas do governo de obstruir as 

investigações da Operação Lava-Jato não tiveram 

como alvo apenas os ministros do Supremo Tribunal 

Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Para que 

o plano fosse bem-sucedido, era necessário também 

frear o trabalho dos delegados, dos procuradores do 

Paraná e do juiz Sergio Moro - os responsáveis pelo 

processo que desvendou o maior escândalo de 

corrupção da história do país, colocou na cadeia 

empreiteiros, políticos, lobistas e promove um cerco 

ao ex-presidente Lula. A presidente Dilma, ao que 

tudo indica, decidiu arriscar-se nesse terreno - e 

escalou para a missão o seu assessor mais 

poderoso: o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques 

Wagner. Ele tem em mãos um dossiê que acusa o 

juiz Moro de participar de uma conspiração com o 

objetivo de atingir o PT e seus líderes.

O documento, resultado de uma investigação 

paralela, foi entregue ao ministro no fim do ano 

passado. Com o pomposo nome de "Relatório de 

Inteligência", ele traz um organograma do que 

estaria por trás das investigações da Lava-Jato. É 

um trabalho digno de "aloprados", como Lula definiu 

em 2006 os petistas que compraram um dossiê 

fajuto para tentar envolver o tucano José Serra, 

então candidato a governador de São Paulo, numa 

quadrilha que desviava verbas do Ministério da 

Saúde. Na época, a Polícia Federal desmontou a 

farsa e prendeu em flagrante a arraia-miúda 

responsável pela falsificação, mas, de novo, os 

mandantes conseguiram se safar. Desta vez, os 

mentores do plano têm nome e sobrenome.

WERNECK, O NEO-ALOPRADO.

No fim do ano passado, Jaques Wagner recebeu em 

uma audiência no Palácio do Planalto dois policiais 

federais ligados a sindicatos que representam a 

categoria. A audiência não foi registrada na agenda 

do ministro. O cuidado tinha explicação. Os agentes 

foram levar um dossiê de seis páginas que acusa o 

juiz Moro, os procuradores, os delegados da 

Operação Lava-Jato e até os advogados de réus que 

decidiram colaborar com a Justiça de estarem todos 

a serviço de um grande plano do PSDB para 

implodir o PT e o governo. Um diagrama com fotos 

anexado ao dossiê tenta estabelecer essas 

conexões. O esquema mirabolante envolve na 

trama até mesmo uma multinacional "interessada" 

em destruir a Petrobras. O portador do documento 

foi o policial Flávio Werneck, presidente do Sindicato 

dos Policiais Federais no Distrito Federal (Sindipol) e 

vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais 

Federais (Fenapef). A audiência foi acompanhada 

pelo também petista Tião Viana, governador do 

Procurado por VEJA, Werneck admitiu que levou o 

dossiê ao ministro. Ele explicou que apresentou o 

caso ao Planalto por se tratar de uma denúncia 

grave, num momento delicado pelo qual passa o 

país. "Temos um problema de anacronismo na 

investigação, que já tem dois anos e vem pegando 

pontos-chave de empresas e do governo. Isso afeta 

diretamente a economia", explicou o agente. Jaques 

Wagner, depois de ler o conteúdo, teria dito apenas 

que encaminharia o dossiê para "um promotor 

baiano de sua confiança dar sequência ao assunto". 

Os sindicalistas aproveitaram a reunião para pedir 

reajuste salarial e repisar outras reivindicações da 

categoria - reivindicações que o ministro se 

comprometeu a atender.

WAGNER, O COMANDANTE.

O envolvimento do chefe da Casa Civil numa 

operação desastrada para obstruir as investigações 

é mais uma grande dor de cabeça para o governo. 

Na semana passada, Jaques Wagner recebeu da 

presidente Dilma Rousseff carta branca para 

escolher o substituto de José Eduardo Cardozo no 

Ministério da Justiça, pasta à qual está subordinada 

hierarquicamente a Polícia Federal. O eleito de 

Wagner para a vaga foi o promotor baiano 

Wellington Lima e Silva, até então uma figura 

desconhecida nacionalmente, mas famosa na Bahia 

por uma longa folha corrida de serviços prestados 

ao PT e ao hoje ministro da Casa Civil. A troca 

acontece no momento em que as investigações 

apontam para conexões do escândalo na Bahia. A 

polícia colheu indícios de que dinheiro desviado do 

petrolão pode ter financiado em 2014 a campanha 

do petista Rui Costa, sucessor de Wagner no 

governo. Uma nota fiscal apreendida revelou um 

repasse de 255 000 reais da OAS, uma das 

empreiteiras envolvidas no escândalo, para a 

empresa Pepper Comunicação. Os investigadores já 

sabem que houve uma simulação de prestação de 

serviço. O dinheiro, na verdade, teria sido remetido 

clandestinamente para saldar dívidas da campanha 

do PT na Bahia. A substituição de Cardozo também 

chamou atenção por ter acontecido às vésperas da 

ação da Lava-Jato contra o ex-presidente Lula, de 

quem Wagner é um fiel escudeiro. Do site da 
Do site revista Veja

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