segunda-feira, 22 de abril de 2013

Resposta do Corrêa Leite ao bloguista Sakamoto



Amigos, pessoas se manifestam publicamente sobre fatos acontecidos há 20 anos, sem conhecimento de causa ou qualificação específica para comentar sobre determinado assunto. Parece ser esse o caso desse bloguista.
Só quem viveu e enfrentou aquela situação tem conhecimento suficiente para julgar as pessoas.




Amigos


Sou suspeito ao falar do Corrêa Leite, um dos melhores, em todos os
sentidos, oficiais que tive o privilégio de conviver, mas não posso
furtar-me a divulgar sua resposta coerente, serena e profunda a um de
nossos detratores ou vítima da influência da mídia que não é o quarto poder
mas sim o primeiro, não tenho dúvidas.


Sugiro a leitura e proponho à AOPM que divulgue ou até mesmo questione o
blogueiro pelas genéricas impropriedades do Sr. Sakamoto.


Parabéns, Corrêa, pela sempre oportuna ação e
pelas esclarecedoras palavras, muitas das quais acompanhei em nosso
trabalho no 2º Grupamento de Incêndio, nome da Unidade à época.


Donizeti, seu fã.









Resposta ao Blogueiro

Sr Sakamoto

É provável que o que vou escrever não chegue ao senhor mas vou fazê-lo
mesmo assim, para que eu possa me expressar e contribuir um pouco com o
grande desconhecimento que assola as pessoas que se julgam abalizadas para
escrever sobre determinados assuntos.

A julgar por sua aparência o senhor não deve ter vivido o período conhecido
como "ditadura"... eu que tenho 47 anos quase não o vivi.

A influência que sofreu, talvez na universidade (também sou pós graduado
pela PUC em gestão de políticas públicas em segurança), determinou uma
visão bastante distorcida de que, tudo que aconteceu naquele período foi um
desastre e tudo o que aconteceu após, promovido por uma "esquerda festiva"
foi ótimo.

Sinto em desapontá-lo mas nem uma coisa nem outra é verdade.

É Fato que nem tudo na ditadura foi bom, tampouco agora temos muitas coisas
para nos orgulhar, considerando que alguns métodos são tão ou mais
extremistas do que os vividos naquela época.

Aprendi em uma das minhas graduações (vi seu currículo e me permita
expor-lhe que tenho quatro delas, além de três especializações, um mestrado
e um doutorado) que há uma expressão em latim que indica: "virtus in medium
est", ou seja, a virtude está no meio.

Assim, me incomoda pessoas que exprimem suas opiniões com expressões que
sugerem que o "bandido bom é o bandido morto", mas me incomoda igualmente
a ideia de ser chamado de "ASSASSINO".

Isto mesmo senhor Sakamoto, eu estava lá.

Sou um dos 78 réus deste processo.

Não estou falando por ouvir dizer nem comentando assuntos cujo conhecimento
não possuo e reproduzo da mesma forma que o fez, carregado de preconceito e
de premissas falsas que o levam a conclusões mais falsas ainda.

Vivi trinta anos entregues a vocação de ajudar as pessoas e ao longo deles,
perdi a conta de quantas vezes arrisquei minha vida em favor de pessoas que
mal conhecia, inclui-se aí, 13 anos no Corpo de Bombeiros entre estruturas
colapsadas para retirar uma vida...ou apenas um corpo, apenas para
justificar a família o direito de enterrar seu ente querido, dois acidentes
de aviões, queda da Igreja Universal do Reino de Deus, acidente de trem em
Perus, além é claro do fatídico episódio do Carandirú.

O senhor não deve estar entendendo o que estou falando... afinal, duvido
que a maioria das pessoas pudessem entender tamanho desprendimento... isto
serve para "Idiotas"... "Assassinos", Incultos e mal preparados idealistas
como eu.

Não é assim que o senhor e parte das pessoas nos chamam?

Vou lhe dizer qual o meu erro neste episódio, mas espero que não conte isto
à ninguém.

Meu erro foi não ter trabalhado no dia anterior ou no dia seguinte àquele
acionamento, era a minha escala de serviço o meu pelotão.

Não fosse isto, hoje talvez não seria tratado como vi alguns companheiros
serem tratados : "assassinos".

O problema era tão meu quanto seu... (integrante da sociedade) quanto do
Ministério Público (que nos acusou) ou da Magistratura (que nos julgou) ou
ainda de nossos dirigentes que nos transferem problemas como forma quase
exclusiva de mostrar que o problema não é deles.

A velha máxima simplistas...a exemplo de seus comentários... de que, o
importante é ter em quem colocar a culpa.

Termino contando uma última passagem.

Há cerca de 8 anos, fui chamado para intervir em um suicídio em uma torre
de alta tensão no trevo de Alphaville.

Era um egresso do sistema prisional cuja família (esposa e filha) não o
queria mais em casa.

Fiquei quase três horas pendurado a um cabo de segurança próximo a rede
elétrica até conseguir sua contenção e descer com esta pessoa sã e salva
para que, dias depois, ela estivesse sendo valorizada num programa de TV
relatando seu drama.

Fui agraciado com um elogio interno mas jamais as pessoas ficaram sabendo
meu nome.

Hoje, entretanto, vejo eu e meus companheiros depois de nos arriscarmos em
favor de pessoas que não nos emprestam nenhuma consideração nos chamar de
assassinos e "filhos de uma ditadura" que sequer eu vivi.

Permita-me então, faça um favor a si mesmo e a seus leitores, que são
muitos a julgar pelo número de acessos de seu Bolg, não fale sobre o que o
senhor não sabe ou não viveu ou ao menos tenha mínima percepção.

Isto torna seus argumentos ridículos e dão o direito a todo tipo de
comentário, entre eles, alguns dos quais eu também não concordo.

O de que "bandido bom é bandido morto" ou de que "morreram poucos".

À proposito, apesar de não mais atuar nas ruas com a mesma frequência (nem
sei como será daqui para frente até o recurso a que teremos direito), caso
o senhor precise por qualquer motivo, é possível que a mão amiga que
será estendida para lhe ajudar será a minha ... e eu o farei, porque é da
minha índole (prefiro me expor na ação do que me acomodar apenas
criticando), até meu último dia de serviço ou até que eu esteja, quem sabe,
cumprindo a pena que o senhor exultante divulgou em seu Blog.

Felicidades !



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