terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O poderoso coronel Oliva

O poderoso coronel Oliva

Irmão do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio 

Mercadante, em três anos como consultor, o militar da 

reserva participou da intermediação dos dois maiores 

contratos das Forças Armadas nas últimas décadas

Claudio Dantas Sequeira



Em quase qualquer lugar do mundo a indústria de defesa tem apenas dois 

tipos de clientes: o Estado ou grupos que querem tomar o controle do Estado. 

Em qualquer lugar do mundo, também, leva a melhor nesse mercado quem 

decifra os caminhos do poder, conhece quem tem o controle da chave do 

cofre e é capaz de influir na elaboração das políticas de regulação do setor. 

No Brasil, poucas pessoas reúnem esses requisitos como o coronel da reserva 

Oswaldo Oliva Neto. Desde que deixou o governo o coronel passou a atuar na 

iniciativa privada, como consultor na área militar, que hoje é alvo de uma 

plêiade de grupos internacionais – interessados, claro, em abocanhar uma 

fatia dos bilionários contratos de reaparelhamento das Forças Armadas e de 

fortalecimento da segurança pública. Em pouco menos de três anos, Oliva 

Neto foi o responsável pela intermediação dos dois maiores contratos no setor 

de defesa realizados no Brasil nas últimas décadas – a compra dos helicópteros 

franceses EC-725 e dos submarinos, também franceses, Scorpéne. Os dois 

negócios movimentaram mais de R$ 20 bilhões.



Agora Oliva Neto girou suas baterias para a Copa do Mundo de 2014 e a 

Olimpíada de 2016. Seu lance mais recente foi unir a consultoria de sua 

família, a Penta Prospectiva Estratégica, ao grupo Odebrecht, dono da maior 

empreiteira do País, a Construtora Norberto Odebrecht. Juntas, as duas 

empresas criaram a Copa Gestão em Defesa. O primeiro objetivo da nova 

companhia é entrar na briga pelo fornecimento dos sistemas de inteligência e 

comunicação militar para a Copa de 2014, um pacote que deve superar 

facilmente os R$ 2 bilhões. “A ideia é desenvolver um sistema nacional, pois 

os de fora não atendem às nossas necessidades”, disse o ex-coronel à ISTOÉ. 

Oliva Neto, para quem não sabe, é irmão do ministro de Ciência e Tecnologia, 

Aloizio Mercadante. Seu pai, o general Oswaldo Muniz Oliva, desfruta da 

amizade de Lula e atuou como uma espécie de fiador do ex-presidente junto à 

caserna no início do governo petista, em 2003. E foi justamente a chegada do 

PT ao poder que garantiu a ascensão de Oliva Neto fora dos quartéis. Dentro 

deles, a verdade é que ele não chegou a se destacar muito. Foi um aluno 

regular na Academia Militar das Agulhas Negras, viveu praticamente toda a 

sua vida em São Paulo e só ocupou um posto de comando, atingindo a patente 

de coronel.

Oliva começou a crescer em 2004, depois de uma rápida passagem pelo 

gabinete do comandante do Exército. Foi nomeado secretário executivo do 

antigo Núcleo de Assuntos Estratégicos (depois transformado em secretaria) e 

elaborou o projeto “Brasil 3 Tempos”, um plano de metas estratégicas até 

2022. Com a queda, por conta do mensalão, do ministro-chefe do Núcleo, Luiz 

Gushiken, em 2007, Oliva Neto assumiu a pasta interinamente, mas deixou o 

cargo meses depois e se afastou do governo definitivamente em 2008.

Doutor em planejamento militar pela Escola Superior de Guerra e dono de um 

MBA executivo na Fundação Getulio Vargas, Oliva Neto refugiou-se na 

pequena consultoria fundada pelo pai, a Penta, logo após deixar o governo. 

Até então, a consultoria vinha conseguindo um sucesso modesto na busca de 

mercado externo para pequenos e médios produtores nacionais. Com a 

chegada de Oliva Neto, a empresa começou a decolar. 

Com Oliva Neto, a Penta foi uma das responsáveis por garantir o contrato de 

construção do estaleiro em que serão montados os submarinos Scorpéne 

comprados da França (quatro convencionais e um nuclear), além de uma nova 

base naval no Porto de Sepetiba. A Odebrecht foi escolhida pela Marinha e 

terá 59% do estaleiro por meio de uma sociedade de propósito específico, a 

Itaguaí Construções Navais. “A escolha da Odebrecht ocorreu sem 

transparência, na brecha da lei de licitações para questões de segurança 

nacional. Mas tenho dúvidas se o estaleiro se enquadra nisso”, afirma o 

procurador junto ao TCU, Marinus Marsico. Ao todo foram firmados com a 

França cinco contratos, um deles para a transferência de tecnologia e outro 

para fornecimento de mísseis. O investimento será superior a R$ 17 bilhões. 

Sempre discreto, Oliva Neto também trabalhou ativamente no contrato de R$ 

5 bilhões para a compra dos helicópteros EC-725 para Marinha, Exército e 

Aeronáutica.

O último negócio do coronel foi a parceria com a Odebrecht na Copa Gestão 

em Defesa, cujo capital inicial é de R$ 1 milhão. O negócio mudou o perfil 

familiar da antiga consultoria. “Agora estamos trabalhando com gente grande, 

como Microsoft, IBM e Icon”, comemora Oliva Neto, que também ocupa o 

cargo de diretor de integração de projetos, na Odebrecht Defesa e 

Tecnologia. O próximo movimento do consultor é conseguir a aprovação da 

nova Política Nacional de Indústria de Defesa, que define os parâmetros para 

o desenvolvimento do parque industrial militar e apresenta o conceito de 

“empresa estratégica de defesa”. Dentre outras exigências, deve ter sede e 

administração no País, ser aprovada pelo Ministério da Defesa, além de 

assegurar a participação de representantes da administração pública em seus 

órgãos consultivos. O texto teve contribuição de Oliva Neto. Mas não agradou 

a todos. “O Brasil precisa de uma agência reguladora. O Ministério da Defesa 

não pode fazer esse papel”, diz o consultor em segurança nacional Salvador 

Raza. Ao que parece, o futuro dessa iniciativa será a prova de fogo do poder 

do coronel Oliva Neto.

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