sexta-feira, 6 de maio de 2016

Abundância

Para os que não estão no meu Face, quem estiver e já leu, pode deletar.
ABUNDÂNCIA
O Tonho, nosso funcionário no sítio é pau para toda obra, meio "oficial" em tudo: pedreiro, encanador, eletricista, além de entender tudo das coisas da roça.
Naquele tempo, nós tínhamos plantação de café, estando perto de um milhão de pés... do vizinho, pois os nossos não passavam de uns humildes dez mil. A cultura do café só é lucrativa acima dos 100.000 pés, abaixo disso, dá para viver da lavoura, se tocada pela própria família, sem a utilização de mão de obra paga. Mas, meu sogro era insistente.
Quando resolvemos tirar um pouco de leite, para aproveitar a pastagem e diminuir o prejuízo, o Tonho já não conseguia mais dar conta de todo o serviço: contratamos, então, o Ditinho para o ajudar.
Achando que tudo ia indo bem, voltei para S. Paulo, retornando para a roça uns quinze dias depois, quando tive uma surpresa ao ser procurado pelo Ditinho:
_Seu Rarfi, eu quero minhas conta, qui num trabaio mais cum o Tonho, pois num tem jeito da genti si acertá. Comu eu já tenhu pra dondi i, si o sinhô concordá eu i a muié si mudamu hoji memo.
Chamei o Tonho e os dois começaram um bate-boca, quase partindo para as vias de fato. Como não vi a possibilidade de um acordo, acertei as contas do Ditinho, que à tarde já estava com os seus trens no caminhãozinho para ir embora:
_Óia aqui, seu Rarfi – disse-me, braba, a mulher do Ditinho, quando partiam. _ O Tonho fais tempo qui tá imbruiando o sinhô. Eli trabaia qui nem um doidu, quando o sinhô tá aqui, dispois só qué é pescá: eli é um priguiçoso. Tudu qui era sirviço , eli jogava nas costa du meu marido.
_Só o sinhô qui num qué vê. Óia pra eli: dondi já si viu homi di roça bundudu dessi jeito, inté parece uma içá!
Aí eu reparei na figura do Tonho: e num é que a mulher tinha razão.
Ralph

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