terça-feira, 14 de junho de 2016

Conselho de Ética aprova cassação de Eduardo Cunha










Conselho de Ética aprova cassação


O presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - 04/05/2016



O presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - 04/05/2016(Pedro Ladeira/Folhapress)

Depois de 225 dias, finalmente, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados conseguiu votar o mais
 longo processo de cassação de mandato da história. Por 11 votos a 9, o colegiado recomendou a perda 
do mandato do presidente afastado da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Agora, o caso segue para o aval
 do Plenário, em votação aberta, com uma escala anterior na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
 a quem cabe deliberar sobre os aspectos processuais no Legislativo - e não sobre o mérito da acusação.
O parecer, assinado por Marcos Rogério (DEM-RO), concluiu que Cunha quebrou o decoro parlamenta
 ao mentir sobre a manutenção de contas bancárias não declaradas no exterior durante um depoimento 
à antiga CPI da Petrobras. O relator também incluiu no texto provas coletadas pela força-tarefa da
 Operação Lava Jato. Cunha é réu na Justiça por suspeitas de lavagem de dinheiro desviado dos cofres da 
Petrobras para benefício próprio.
"O caminho do dinheiro é revelador, mostra quem é o dono, quem tem as senhas, quem movimenta a
conta, a quem o banco deve mandar correspondências e a quem deve prestar contas. Não é adequado
 premiar a esperteza em detrimento da verdade", disse o relator. "O deputado mentiu para criar um 
contexto político desfavorável à Operação Lava Jato e para atacar a Procuradoria-Geral da República.
 Utilizou a CPI da Petrobras como um palco para barrar as investigações, mentiu e omitiu informações."
A defesa de Cunha repisou o argumento de que ele não é titular de contas bancárias, mas possui os
 chamados trustes - instituto jurídico no qual alguém transfere o controle de bens a um terceiro. "Por que
 o parecer do relator tem 90 páginas? Porque não tem uma linha, uma prova. Cadê o número da conta
 corrente em nome do meu cliente?", disse o advogado Marcelo Nobre, enquanto exibia as quatro letras
 - cadê? - rabiscadas num pedaço de papel. "O relator insiste que cachorro é cavalo", emendou.
Aliados de Cunha afirmam que ele ainda detém cartas na manga, entre elas recursos que lotam a 
Comissão de Constituição e Justiça que podem anular todo o processo do conselho, levando a tramitação
 da representação à estaca zero. Também aguarda deliberação da CCJ parecer elaborado pelo aliado de
 Cunha que traz a possibilidade de que a decisão do conselho seja revertida em plenário.
Tia Eron - O ponto alto da votação foi a fala da de Tia Eron (PRB), a desconhecida deputada baiana que
 roubou os holofotes há uma semana por ser apontada como decisiva para selar o resultado. Tia Eron, 
sim, elevou o tom. Pediu a palavra para dizer que não votaria sob as ordens de seu partido e atacou quem
 reclamou do seu sumiço na semana passada. "Não mandam nessa nega aqui! Nenhum dos senhores 
manda", disse, com dedo em riste e semblante fechado. Mais tarde, votou pela cassação.
Com o voto dela declarado, não foi necessário o tiro de desempate do presidente do Conselho, José Carlos
 Araújo (PR-BA), a quem já se sabia que deliberaria pela cassação.
A exemplo das sessões anteriores, a gritaria entre os escudeiros de Cunha e seus críticos atingiu altos
 decibéis e degenerou em baixaria. Wladimir Costa (PMDB-PA) provocou alvoroço ao afirmar que num
 grupo de "1 milhão de petistas, 999.999 são bandidos, ladrões e batedores de carteira". Petistas 
reagiram com gritos de "ladrão de rádios" dirigidos ao peemedebista, que é radialista. Em seguida,
 Costa deixou claro que as sessões do colegiado muitas vezes mais parecem um picadeiro: fiel aliado de
 Cunha, depois ouvir o voto de Tia Eron, ele anunciou que votaria inexplicavelmente a favor da cassação
 do amigo que defendera há instantes. Àquela altura, o jogo já estava jogado.
Acusações - Nesta terça, o Banco Central decidiu cobrar uma multa de 1,13 milhão de reais do 
peemedebista e sua mulher, a ex-jornalista Cláudia Cruz, por manter recursos não declarados no
 exterior. Ontem, a Procuradoria-Geral da República apresentou uma ação civil na qual cobra que 
Eduardo Cunha devolva cerca de 20 milhões de reais e tenha os direitos políticos suspensos por 
dez anos.
A Operação Lava Jato investiga as contas secretas, suspeitas de servirem como um dos caminhos para
 mascarar o recebimento de propina no petrolão. O presidente da Câmara rechaça as acusações e afirma 
ser apenas beneficiário de um truste sobre o qual não tem o poder de realizar movimentações financeiras.


 de Eduardo Cunha

Parecer pela perda do mandato agora será submetido ao plenário 

da Câmara em votação aberta; Cunha ainda tenta manobra para

 se salvar na Comissão de Constituição e Justiça





Por: Marcela Mattos, de Brasília - Atualizado em 

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