quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A fuga da Família Real



A fuga  da Família Real e sua importância para o Brasil
 

Uma decisão covarde ou um ato brilhante com vistas ao futuro? Seja como for, a fuga da Família Real de Portugal deu ao Brasil um status único no continente americano e fez do Rio de Janeiro uma capital europeia.
Em 1807, a Europa vivia um pandemônio. A França de Napoleão Bonaparte e a Inglaterra já em vias de industrialização lutavam pela hegemonia do continente. Para sufocar a Inglaterra e impedir que exportasse seus produtos, Napoleão decreta o Bloqueio Continental, ou seja, a proibição do desembarque de mercadorias inglesas em todos os portos europeus. Portugal, aprisionado por diversos tratados econômicos à Inglaterra, fica entre dois fogos: se desobedece à ordem francesa, corre o risco de invasão (e o exército francês já estava na Espanha, bem perto da fronteira); se fecha as portas para a Inglaterra, estaria desagradando a maior potência naval de então, que certamente pensaria em represálias.
A corte se divide: uma parte quer a adesão à França, outra sustenta a preservação da aliança com os ingleses. Predomina a segunda posição, não deixando ao Príncipe Regente D. João VI outra opção que não fosse colocar-se em segurança no Brasil, fugindo do risco de um confronto direto com o poderoso exército francês.
A fuga não foi tão súbita e atabalhoada quanto se costuma pensar. Um único fato é suficiente para demonstra-lo: ao chegar ao Brasil, a corte portuguesa desembarca com todo o acervo da Biblioteca Real - origem da atual Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro - devidamente embalado e catalogado, o mesmo acontecendo com obras de arte e documentos do arquivo real. Numa fuga decidida às pressas, ninguém pensaria em cuidar do acervo cultural e artístico com tanto esmero e tantas atenções técnicas. Não foi, portanto, um "salve-se quem puder", mas uma alternativa longamente planificada e preparada.
Mesmo assim, os fatos parecem ter-se precipitado, criando, nos últimos dias da permanência da corte em Lisboa, um clima de forte agitação e correria. O embarque da família real é ordenado por D. João VI para o dia 27 de novembro de 1807, pela manhã. Naquele dia, sob os olhares apreensivos da gente comum, nobres desembarcam de suas carruagens o dia inteiro no cais de Lisboa e embarcam nos escaleres que os levariam aos navios. A frota deveria partir na manhã do dia 28, mas o mau tempo retém os navios no porto por mais 24 horas, enquanto as tropas francesas se aproximam perigosamente da cidade. Na manhã do dia 29, enfim, "ao nascer do dia", põem-se em movimento as oito naus de linha, as quatro fragatas e quatro embarcações menores, que levavam a corte, e mais uns quarenta navios mercantes, onde viajava a elite econômica e social de Portugal. No total, mais de 15 mil pessoas, numa das maiores fugas oceânicas de que se tem notícia. Com a corte, vão todos os tesouros do reino, deixando-se nos cofres públicos apenas os títulos de dívidas que nunca seriam pagas.

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