Cracolandia.
De: "Flammarion" <fanruiz@uol.com.br>
Data: 26/02/2015 11:05
Assunto: Porque acredito
Para: "Flammarion" <fanruiz@uol.com.br>
Encaminho para seus conhecimento a mensagem abaixo:
A propósito do Crack e seu terrível uso e porque acredito na Polícia Militar
Nesta semana, na edição de 25 de fevereiro, a Revista Veja traz uma reportagem de vital importância para todos os brasileiros, porque se estima que o uso do crack já assole um milhão de famílias e torna o Brasil um país refém desta droga. O que assusta é absoluta leniência e incompetência das autoridades responsáveis pela persecução criminal, porque convivem e coonestam com este tipo de atividade e porque inexistem políticas públicas de contenção deste comportamento social, vez que a cada dia mais e mais indivíduos vem a público promover verdadeira apologia e aliciamento indireto do uso destas substâncias, como se todas pessoas quando desejassem pudessem abandonar seu uso, pelo vício que causam e pelo comprometimento que sua aquisição significa.
É, pois, no submundo do crime que moram os grilhões modernos a produzir escravos e zumbis de nossa desinformada sociedade. A droga aliena, acalma, tanto quanto permite a fuga e o afastamento de indivíduos do convívio normal das pessoas e é um mais do que claro, um terrível e abominável mal que a sociedade deveria a todo custo evitar e combater.
Quando no comando do batalhão da Polícia Militar, que atua na área da Cracolândia, em 1997, e lá se vão mais de 17 anos, lançamos eu e o Ilustre Padre José Guedes, pároco da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, o que chamamos de operação “Junto Podemos”, visávamos unir todos os segmentos da sociedade do centro da cidade contra esta droga, porque sabíamos que com 2 ou 3 “pipadas” já era possível se viciar crianças, jovens adolescentes e adultos.
O tempo passou e desde então, só vimos a situação se agravar e piorar o ânimo das entidades estatais para vencer este grande desafio, que significa resolver o problema de cada destes descaminhados e de seu conjunto. Testemunhamos propostas paliativas, eleitoreiras, absurdas e mesmo desonestas de cunho de promoção pessoal, ou partidárias.
Fui para a reserva após 35 anos de serviço e cada vez que por ali passo, me pergunto como uma sociedade como esta se dá ao luxo de se dizer democrática, séria, ética, moral, civilizada, nestas tão precárias situações. Não somos nada disso reconheçamos, pois já seria um bom começo que mostraria uma tênue sensibilidade de espírito.
São tão vis as áreas reservadas aos viciados, que parece estarmos num jogo virtual da série para a TV americana “The Walking Dead” ou numa melhor adaptação “Mortos Vivos”, no coração da maior cidade do Brasil, por mais de 2 décadas. É uma falência total do Estado, principalmente por causa do orgulho, da vaidade de pessoas menores, sim pessoas, alçadas ao poder por todos nós, mas que se apequenaram nos compadrismos e apadrinhamentos do seus comprometimentos eleitorais menores, que o interesse de humanidade e responsabilidade, com os quais juraram às lágrimas de crocodilo no período eleitoral, os assemelha agora sem qualquer pudor a uma perfeita organização do tipo mafioso, onde usurpam o sagrado poder emanado de todos para nunca dar solução aos problemas que a sociedade precisa resolver.
Como sabemos do drama de cada um, e a revista acima acompanha por longo período uma jovem mãe na busca de se livrar do vício, há um vergonhoso dilema, um acinte e mesmo um paradoxo, que nos assusta, ao mesmo tempo em que nos avilta e nos envergonha em relação a esta droga na Cracolândia e que se dissemina por toda capital e tantas mais cidades do Brasil, é saber “de onde vem esta droga?” e por lógica dedutiva; “por onde ela passa, por quais caminhos” e principalmente “quem as traz?”
Nestas simples perguntas, tão óbvias, se tem claro a virtude tal qual Franz Kafka nos ensina em suas observações, e podemos dizer sem medo de errar, como isto tudo se tornou um processo e um negócio de espetacular lucratividade. Quais ramos da atividade humana obtêm tal nível de resultado e, exatamente aí, quais ramos esta tão perniciosa atividade por meio deste processo, alicia, coonesta e submete aos seus interesses?
Numa sociedade que apura apenas 2% dos crimes de autoria desconhecida, o processo se torna um tremendo sucesso, com a organização dos grupos, dos bandos, das quadrilhas, dos fenomenais lucros, cujo sucesso replica as ações delituosas de tal modo e com tal frequência, que chegam aos vulneráveis de todas as idades, por meio do marketing do barateamento e qualidade do produto e porque oferecem muito pouco risco para os poderosos envolvidos em todos os níveis do negócio.
A polícia preventiva, que por lei só pode estar nas ruas para fazer policiamento ostensivo, e não pode investigar, nada sabe, ou deve saber, de quem são os poucos responsáveis pelo tráfico e, quanto mais tumultuada a ordem pública, mais lhe é turbada a vigilância, a prevenção e, portanto, menos a sociedade alcança sua principal finalidade que é prevenir a ocorrência de ilicitudes ou desvios de conduta, que comprometam interesses de higidez desta magnitude em relação às drogas.
As autoridades públicas, com suas equivocadas interpretações do que é liberdade individual, se omitem no socorro necessário aos desvalidos que buscam nos entorpecentes a fuga do momento que vivem, para resumir razões. Por outro lado, todos os grupos, dos voluntários aos religiosos, também se sentem oprimidos pela deletéria ação política e de políticos que querem se mostrar interessados em ocupar cargos para resolver o problema. Estes e aqueles se esvaem em esforços parciais e de oportunidade para pouco conseguirem na realidade de concreto, deste atrasado resgate de pessoas como os citados no semanário.
A pergunta que remanesce é: Esta é a nossa sina, não há como muda-la? Hoje, após todo este tempo perdido e após centenas de milhares de vítimas, concluo que podemos muito, mas muito mais e precisamos fazê-lo, pois é possível e não podemos mais declinar deste nosso dever, não só porque o dever do coração fielmente observado eleva o homem, mas porque o sentido de dever começa onde se sente ameaça à felicidade e ou à tranquilidade do nosso próximo e que não desejaríamos ver transpostos em relação a nós próprios. É simples assim, pela virtude de nosso dever.
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