Policial cidadão ou capitão do mato?
As condições preocupantes da Segurança Pública em todo o estado e no país, demandam a inadiável formulação e implementação de políticas públicas que contemplem soluções para as bem conhecidas causas sociais da violência e criminalidade, para a estruturação e aparelhamento dos órgãos policiais, para a rápida e exemplar punição dos criminosos e para o eficaz cumprimento das penas. É fundamental que nossos governantes entendam que a construção da sociedade e das instituições sonhadas por nós só será possível se não nos esquecermos de que todas elas são, fundamentalmente, pessoas e não estruturas, e que só evoluem com a adoção de medidas que busquem o desenvolvimento humano. No que diz respeito à polícia, o único modelo compatível com a democracia é o de uma organização policial legalista e integrada à comunidade. Uma polícia transparente que respeite e proteja o cidadão, mas que tenha seus integrantes tratados pela sociedade e pelo governo, também como cidadãos e não como meros capitães-do-mato, obrigados a tomar conta da “senzala”, sem o direito de sequer se aproximarem da “casa grande”. A Polícia Militar é formada por profissionais que diariamente se superam, fazendo o extraordinário para melhor servir à população paulista, protegendo os cidadãos e enfrentando bravamente uma criminalidade cada vez mais violenta e perversa. Por outro lado, desgraçadamente, seus integrantes têm salários absolutamente incompatíveis com uma condição mínima de sobrevivência digna, obrigando um número cada vez maior de policiais a viver nos limites da miséria. Suas esposas não podem secar as fardas fora de casa, com medo da represália dos bandidos que moram nas vizinhanças, principalmente porque, na maior parte das vezes, seus maridos estão ausentes, obrigados que são a fazer “bicos” fora do expediente, quando deveriam estar descansando no convívio familiar.
Nessas condições, mesmo os policiais mais vocacionados sucumbem ao
terem sua própria dignidade vilipendiada pelos baixos salários, más
condições de trabalho ou pelo não reconhecimento de seus sacrifícios. É
evidente que a esses homens e mulheres, que mal conseguem prover o
sustento de suas famílias, que se esgotam à serviço da sociedade no
seu perigoso e estressante trabalho, pouco tempo e condições lhes restam
para preocupar-se com o seu próprio aperfeiçoamento profissional. Na
verdade eles, na sua maioria, estão no limite máximo de suas condições
psico-físicas.
E vemos, com
tristeza e preocupação, governantes afirmando que investem na segurança
pública porque compram armas e viaturas, como se esse tipo de
investimento pudesse significar uma política de segurança minimamente
inteligente, dispensando o investimento no fator humano das organizações
policiais - que no estágio atual, é a parte mais importante da solução
do problema-, e outros aspectos, como no ataque às bem conhecidas causas
sociais da criminalidade e no fim da impunidade.
Essa insensível e equivocada forma de gestão pública atenta gravemente contra a ordem pública e a segurança dos cidadãos.
Carlos Alberto de Camargo - Cel PM Ex-Cmt Geral da PMESP |
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Policial-cidadão ou capitão-do-mato?
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