O poderoso coronel Oliva
Irmão do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio
Mercadante, em três anos como consultor, o militar da
reserva participou da intermediação dos dois maiores
contratos das Forças Armadas nas últimas décadas
Claudio Dantas Sequeira
Em quase qualquer lugar do mundo a indústria de defesa tem apenas dois
tipos de clientes: o Estado ou grupos que querem tomar o controle do Estado.
Em qualquer lugar do mundo, também, leva a melhor nesse mercado quem
decifra os caminhos do poder, conhece quem tem o controle da chave do
cofre e é capaz de influir na elaboração das políticas de regulação do setor.
No Brasil, poucas pessoas reúnem esses requisitos como o coronel da reserva
Oswaldo Oliva Neto. Desde que deixou o governo o coronel passou a atuar na
iniciativa privada, como consultor na área militar, que hoje é alvo de uma
plêiade de grupos internacionais – interessados, claro, em abocanhar uma
fatia dos bilionários contratos de reaparelhamento das Forças Armadas e de
fortalecimento da segurança pública. Em pouco menos de três anos, Oliva
Neto foi o responsável pela intermediação dos dois maiores contratos no setor
de defesa realizados no Brasil nas últimas décadas – a compra dos helicópteros
franceses EC-725 e dos submarinos, também franceses, Scorpéne. Os dois
negócios movimentaram mais de R$ 20 bilhões.
Agora Oliva Neto girou suas baterias para a Copa do Mundo de 2014 e a
Olimpíada de 2016. Seu lance mais recente foi unir a consultoria de sua
família, a Penta Prospectiva Estratégica, ao grupo Odebrecht, dono da maior
empreiteira do País, a Construtora Norberto Odebrecht. Juntas, as duas
empresas criaram a Copa Gestão em Defesa. O primeiro objetivo da nova
companhia é entrar na briga pelo fornecimento dos sistemas de inteligência e
comunicação militar para a Copa de 2014, um pacote que deve superar
facilmente os R$ 2 bilhões. “A ideia é desenvolver um sistema nacional, pois
os de fora não atendem às nossas necessidades”, disse o ex-coronel à ISTOÉ.
Oliva Neto, para quem não sabe, é irmão do ministro de Ciência e Tecnologia,
Aloizio Mercadante. Seu pai, o general Oswaldo Muniz Oliva, desfruta da
amizade de Lula e atuou como uma espécie de fiador do ex-presidente junto à
caserna no início do governo petista, em 2003. E foi justamente a chegada do
PT ao poder que garantiu a ascensão de Oliva Neto fora dos quartéis. Dentro
deles, a verdade é que ele não chegou a se destacar muito. Foi um aluno
regular na Academia Militar das Agulhas Negras, viveu praticamente toda a
sua vida em São Paulo e só ocupou um posto de comando, atingindo a patente
de coronel.
Oliva começou a crescer em 2004, depois de uma rápida passagem pelo
gabinete do comandante do Exército. Foi nomeado secretário executivo do
antigo Núcleo de Assuntos Estratégicos (depois transformado em secretaria) e
elaborou o projeto “Brasil 3 Tempos”, um plano de metas estratégicas até
2022. Com a queda, por conta do mensalão, do ministro-chefe do Núcleo, Luiz
Gushiken, em 2007, Oliva Neto assumiu a pasta interinamente, mas deixou o
cargo meses depois e se afastou do governo definitivamente em 2008.
Doutor em planejamento militar pela Escola Superior de Guerra e dono de um
MBA executivo na Fundação Getulio Vargas, Oliva Neto refugiou-se na
pequena consultoria fundada pelo pai, a Penta, logo após deixar o governo.
Até então, a consultoria vinha conseguindo um sucesso modesto na busca de
mercado externo para pequenos e médios produtores nacionais. Com a
chegada de Oliva Neto, a empresa começou a decolar.
Com Oliva Neto, a Penta foi uma das responsáveis por garantir o contrato de
construção do estaleiro em que serão montados os submarinos Scorpéne
comprados da França (quatro convencionais e um nuclear), além de uma nova
base naval no Porto de Sepetiba. A Odebrecht foi escolhida pela Marinha e
terá 59% do estaleiro por meio de uma sociedade de propósito específico, a
Itaguaí Construções Navais. “A escolha da Odebrecht ocorreu sem
transparência, na brecha da lei de licitações para questões de segurança
nacional. Mas tenho dúvidas se o estaleiro se enquadra nisso”, afirma o
procurador junto ao TCU, Marinus Marsico. Ao todo foram firmados com a
França cinco contratos, um deles para a transferência de tecnologia e outro
para fornecimento de mísseis. O investimento será superior a R$ 17 bilhões.
Sempre discreto, Oliva Neto também trabalhou ativamente no contrato de R$
5 bilhões para a compra dos helicópteros EC-725 para Marinha, Exército e
Aeronáutica.
O último negócio do coronel foi a parceria com a Odebrecht na Copa Gestão
em Defesa, cujo capital inicial é de R$ 1 milhão. O negócio mudou o perfil
familiar da antiga consultoria. “Agora estamos trabalhando com gente grande,
como Microsoft, IBM e Icon”, comemora Oliva Neto, que também ocupa o
cargo de diretor de integração de projetos, na Odebrecht Defesa e
Tecnologia. O próximo movimento do consultor é conseguir a aprovação da
nova Política Nacional de Indústria de Defesa, que define os parâmetros para
o desenvolvimento do parque industrial militar e apresenta o conceito de
“empresa estratégica de defesa”. Dentre outras exigências, deve ter sede e
administração no País, ser aprovada pelo Ministério da Defesa, além de
assegurar a participação de representantes da administração pública em seus
órgãos consultivos. O texto teve contribuição de Oliva Neto. Mas não agradou
a todos. “O Brasil precisa de uma agência reguladora. O Ministério da Defesa
não pode fazer esse papel”, diz o consultor em segurança nacional Salvador
Raza. Ao que parece, o futuro dessa iniciativa será a prova de fogo do poder
do coronel Oliva Neto.
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