quarta-feira, 1 de abril de 2015

O ABRAÇO DO AFOGADO


 "Nós pedimos com insistência: Nunca diga Isso é natural. Diante de acontecimentos de cada dia. Numa época em que corre sangue. Em que o arbitrário tem força de lei. Em que a humanidade se desumaniza. Não digam nunca: Isso é natural. A fim de que nada passe por imutável."
Por Augusto Nunes

Como um punguista de antigamente depois de afanada a carteira da vítima, Lula tenta afastar-se de Dilma Rousseff com cara de paisagem, assoviando um sambinha enquanto caminha nem tão depressa que pareça medo nem tão devagar que pareça provocação. A malandragem deu certo no escândalo do mensalão. O chefão caiu fora da cena do crime e a patente de comandante do bando acabou enfeitando os ombros do subchefe José Dirceu. 

Mas não se pode terceirizar o que é pessoal e intransferível: como Rose Noronha, Fernando Haddad e a refinaria Abreu e Lima, por exemplo, a presidente reeleita é coisa de Lula. Lula logo aprenderá que um poste é inseparável de quem o inventou — e um produto de péssima qualidade pode levar seu fabricante à falência política. Dilma Rousseff será para Lula o que Celso Pitta foi para Paulo Maluf. 

Ambos deslumbrados com os altos índices de aprovação reiterados pelas usinas de pesquisas, o prefeito Maluf em 1995 e o presidente Lula em 2007 resolveram mostrar que conseguiriam transformar qualquer nulidade em ocupante provisório do trono. Para que os escolhidos cumprissem sem resmungos a missão de guardar o lugar até que o chefe voltasse, constatou um post aqui publicado em 2010, o marajá de São Paulo e o reizinho do Brasil optaram por figuras sem autonomia de voo nem luz própria. 

O primeiro pinçou na Secretaria de Finanças do município um negro economista. Ao apresentar o sucessor, repetiu que foi Maluf quem fez São Paulo. Mas quem arranjou o dinheiro, revelou, foi aquele gênio da raça chamado Celso Pitta. O segundo pinçou na Casa Civil uma mulher economista. Ao apresentar a sucessora, reiterou que foi Lula quem pariu o Brasil Maravilha. Mas quem amamentou o colosso, ressalvou, foi aquela sumidade político-administrativa promovida ao posto de Mãe do PAC. 

Obediente a Maluf e monitorado pelo marqueteiro Duda Mendonça, Pitta atravessou a campanha driblando debates e entrevistas, declamando platitudes e louvando o criador de meia em meia hora. Como herdaria uma cidade sem problemas, sua missão seria torná-la mais que perfeita com espantos de matar de inveja a rainha da Inglaterra. Grávido de orgulho, o padrinho ordenou aos eleitores que nunca mais votassem em Paulo Maluf se o afilhado fracassasse...
Para ver mais acesse:






NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI


Assim como a criança humildemente,
afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer por andar,
 ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.

Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam,
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm a ninguém é dado,
repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum,
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto,
a ousadia me afogueia as faces,
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade,
como um foco de germes capaz de me destruir.

Olho ao redor e o que vejo,
 e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe,
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó,
à porta do templo e me pedem que aguarde,
até que a Democracia se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado,
a ponto de cegar, que ela tem uma espada,
a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra,
é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo e não os vemos,
 ao nosso lado no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão,
e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder,
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão,
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição de falso democrata,
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso, esconder minha dor,
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
 Eduardo Alves da Costa





--

Nenhum comentário:

Postar um comentário