Guia básico para entender o que o ajuste fiscal 2015 muda na sua vida
1 - O que é o ajuste fiscal?
Ajuste fiscal é o nome dado ao esforço para equilibrar as contas do
Estado brasileiro e voltar a fechar no azul, após anos de gestão
econômica criticada. A meta é chegar a um superávit primário de 1,1%
do PIB no Governo Federal: trata-se de receita menos despesa, excluído
o gasto do Governo com o pagamento de juros da dívida pública. O
argumento é que o Governo, depois de anos de política expansiva e
aumento de despesas, e principalmente do déficit de 0,63% do ano
passado, não pode gastar mais do que arrecada. Uma gestão austera
enviará aos mercados e aos investidores uma mensagem positiva sobre a
condução da economia. No médio prazo, se o ajuste der certo, o Governo
promete que a economia voltará a crescer de maneira sustentável. Para
este ano, a perspectiva é de uma queda de 1,2% do PIB, a pior em 20
anos.
2 - O que dizem os críticos?
Dizem que o Governo se descontrolou nos anos anteriores e deu
subsídios e benefícios não sustentáveis. A equipe econômica da
presidenta argumenta que as medidas visavam preservar emprego e renda.
Apoiadores do Governo, inclusive dentro do PT, atacam o ajuste porque
dizem que, agora, só os mais pobres vão pagar a conta da austeridade,
e pedem que sejam instituídas saídas que incluam os mais ricos, como
imposto sobre fortunas. Há ainda os que temem que o arrocho na
economia seja tão grande que acabe aprofundando os problemas e
retardando a volta do crescimento.
3- De onde virá a economia para o caixa do Governo fechar no azul?
Basicamente virá de várias frentes: 1 - da alta de tributos, 2 -
cortes de benefícios (alguns dessas medidas dos pontos 1 e 2 ainda
dependem de aprovação do Congresso) e 3 - do congelamento de gastos
não obrigatórios do Governo, as chamadas despesas discricionárias
(pela Constituição, o Governo tem um piso de gastos para saúde e
educação, por exemplo).
4 - O que foi anunciado nesta sexta?
Nesta sexta, o Governo detalhou o ponto 3: o montante que decidiu
congelar dos gastos discricionários - importantes mas não
obrigatórios, que podem ser cortados - em relação à Lei do Orçamento
já aprovada. No total, serão congelados 69,9 bilhões de reais em
gastos, ou 35% do total desse tipo, segundo o ministro Nelson Barbosa
(Planejamento. O Governo também vai congelar o mesmo porcentual (35%)
do gastos previstos nas emendas de parlamentares (projetos e obras
pelos quais os deputados e senadores aprovaram verbas).
5 - Quais áreas e ministérios terão despesas cortadas?
Todas as áreas terão cortes, incluindo os ministérios da Educação e da
Saúde, duas das pastas com os maiores orçamentos do Governo. O
Planalto promete, porém, que vai manter os programas considerados
prioritários, como o Bolsa Família (27,7 bilhões de reais). No caso do
habitacional Minha Casa, Minha Vida, o governo admite que haverá
congelamento de verba, e, portanto, uma redução do ritmo do programa,
que subsidia a compra da casa própria. O Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), o principal programa de infraestrutura do Governo,
vai ser cortado. Obras de infraestrutura do programa, espalhados por
todo o país, podem atrasar. A população terá que esperar mais por elas
e haverá, provavelmente, corte de empregos na construção civil.
6 - O corte nos ministérios afeta a vida do cidadão comum?
Sim. Com um corte deste tamanho é difícil que áreas da administração
pública saiam ilesas. Expansão de programas não prioritários, verbas
de manutenção, aumento de pessoal e um infinidade de outras despesas
serão simplesmente congeladas. O caso do 'Minha Casa, Minha Vida', é
emblemático: uma das vitrines de Dilma Rousseff perdeu cerca 40% da
verba prevista no Orçamento.
7- E o que mais pode afetar o bolso?
Os pontos 1 (da alta de tributos) e 2 (cortes de benefícios) afetam,
definitivamente, o bolso de ao menos parcelas grandes da população.
Nas próximas respostas, detalharemos alguns dos impactos.
8 - O ajuste corta benefícios trabalhistas?
Pelo programa do Governo, sim, mas ainda não há decisão final porque o
tema ainda está no Congresso. Com essas medidas, o Planalto pretende
economizar 15 bilhões de reais. As medidas provisórias 664 e 665
pretendem alterar valores pagos para:
abono salarial (renda extra dada anualmente para quem ganha até dois
salários mínimos)
seguro-desemprego - aumenta de 6 meses para 12 o período trabalhado
para poder receber o benefício. Especialistas dizem que havia
distorções na concessão do benefício, mas outros ponderam que o corte
vai prejudicar setores vulneráveis de trabalhadores temporários, como
os que trabalham na safra ou no transporte portuário.
seguro-defeso - pago aos pescadores no período em que a pesca, será restrito
pensão por morte e auxílio doença - também são endurecidas as regras
para obter o benefício.
9 - O que vai aumentar de imposto? Pode haver aumento nos preços de
produtos? E a gasolina?
Por ora, há alterações em vários impostos, e o Governo não descarta
que sejam necessários novos para fechar a economia prometida.
Cosméticos, combustíveis, carros e produtos importados em geral já
devem estar refletindo o aumento de impostos decididos no começo do
ano. Em detalhes, algumas alterações:
Imposto de renda - Na prática, o brasileiro vai pagar mais Imposto de
Renda porque o Governo não corrigiu de forma integral a tabela de
cobrança usando os dados da inflação. Mais gente vai acabar entrando
na faixa de quem pagará imposto, que saltou de 1.787,77 reais para
1.903,98.
Cosméticos - houve aumento do IPI (imposto sobre Produtos
Industrializados) dos cosméticos, e equipara o imposto do atacadista
ao do fabricante (de 11,75%)
Gasolina e óleo diesel - desde fevereiro, o Governo voltou a cobrar a
Cide, uma contribuição sobre o preço dos combustíveis
Carros - Depois dos anos Lula, quando a compra de carros foi
incentivada como medida para aquecer a economia em meio à crise
global, agora vem a restrição: retorna a alíquota que varia de 7% a
13% e o Governo espera arrecadar 5 bilhões de reais a mais com isso.
Importados - Eleva a cobrança do impostos de produtos importados, e já
está em vigor.
10 - Pedir dinheiro emprestado no banco ou usar o crédito especial vai
ter alteração?
Sim. Qualquer operação de financiamento ou uso do cheque especial já
ficou mais cara neste ano, porque a alíquota de imposto cobrada passou
de 1,5% a 3% ao ano em janeiro.
11- O que Governo vai mexer com as empresas? Que impacto prático pode ter?
A proposta, ainda em análise no Congresso, retira benefício dado às
empresas para tentar manter os empregos. Empresas que pagavam entre 1%
e 2% sobre a receita bruta passarão a pagar de 2,5% a 4,5%.
Empresários ameaçam começar a demitir se a alta for aprovada.
12 - E os bancos?
Nesta sexta, o Governo decidiu, por meio de medida provisória, que os
bancos, que apesar da crise seguem tendo bons desempenhos, paguem mais
impostos por seus lucros a partir de setembro. A taxa passa de 15%
para 20%. Dilma Rousseff busca com isso aumentar arrecadação, mas
também responder a críticos, inclusive os de seu partido, que dizem
que o ajuste fiscal poupa setores privilegiados da sociedade.
Fonte: El Pais
Colaborou: jp- jopinheiro@uol.com.br
Contabilista/advogado especialista em Direito Tributário
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