domingo, 7 de junho de 2015

'Não sei como a Dilma dorme'

'Não sei como a Dilma dorme'

Recém-chegado ao Congresso, o 

cantor-deputado Sérgio Reis tenta 

se adaptar aos costumes da Casa, 

critica o excesso de burocracia e 

ataca o governo

Por: Gabriel Castro, de Brasília07/06/2015 às 10:10 - Atualizado em 07/06/2015 às 10:10
O deputado Sérgio Reis
O deputado Sérgio Reis
(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
'O que mais cansa aqui é aquele pessoal que vem pedir: "Sérgio,
 assine aqui". 
É um tal de assina aqui, assina lá. Eu digo que a última vez que 
eu assinei sem
 ler, eu casei'
Prestes a completar 75 anos, o cantor Sérgio Reis voltou a
ser um
 aprendiz. Há quatro meses batendo ponto em Brasília como
deputado
 federal por São Paulo, ele ainda está descobrindo como se
 comportar
na Câmara. O parlamentar do PRB, partido ligado à Igreja
Universal
 do Reino de Deus, se queixa do barulho do plenário mas
aprova a
experiência - tanto que já pensa em reeleição. Em entrevista
 ao site
 de VEJA, Sérgio Reis critica o governo e diz que o Congresso
 precisa
 ser mais produtivo.
Como é a rotina do senhor? Eu chego a Brasília sempre terça-feira
 no início da tarde. Vejo como está o plenário e passo no meu apart-hote
l para me organizar com roupa, essas coisas. Às vezes eu venho vestido
 do jeito que eu estou. Dá menos trabalho. Na quinta, pego o avião de
 volta.
O senhor continua fazendo shows? Faço dois por semanas, às
 vezes três. Chegando a dez por mês está bom demais. Está ótimo.
E não se cansa? Não. Isso não é novidade. São 50 anos cantando,
 imagine. Tem que ter paciência nos aeroportos, porque tem gente
de todo o Brasil. Aí conversam comigo, querem saber como foram
as novelas que eu fiz. E é bom porque o tempo passa e você não sente.
O povo fica feliz. Tem artista que vai para a sala vip, se esconde.
 Eu não sou tatu para me esconder.
O senhor havia sido convidado a se candidatar já antes 
de 2014. Por que só agora aceitou? Eu pensei melhor e fiz
um balanço da minha vida como artista: só recebi coisas boas.
Cinquenta e tantos anos cantando, o povo só me deu carinho.
Falei: "Puxa, está na hora de devolver alguma coisa para esse
 povo, não é só cantar bonito para eles". Resolvi dedicar quatro
 anos da minha vida a ajudar os parlamentares a criar leis boas,
 fazer coisas boas para o povo. Então eu vim para devolver um
pouquinho de tudo isso que o povo fez comigo. Está na hora de
 eles terem um representante digno, um cara sério como eu,
porque comigo eles sabem que não tem malandragem.
O senhor não foi criticado por essa escolha? Toda hora
 que eu encontro alguém a pessoa diz: "Você é louco, vai no meio
 daquele bando de ladrão". E não é assim. Eu ainda falo: "Não
pensa que é moleza lá, não. A gente entra às vezes 11 da manhã
no plenário e sai às duas da madrugada". É muito barulho.
Os microfones são fortíssimos. As vezes o presidente da Mesa
 não deixa alguém falar e os outros ficam: "Oh, senhor presidente"
. Aí fica um daqui, um de lá, é uma mulher que quer falar, mistura
 as vozes. Hoje de manhã estava uma loucura. É estressante e exige
muita responsabilidade. Mas eu estou muito feliz. O pessoal é super
carinhoso comigo. Ninguém me chama de Serjão. É "deputado".
É "vossa excelência". No começo eu estranhei. Até o Júlio Delgado,
 que é meu amigo há 30 anos, diz: "E aí, deputado, está bom?".
 Eu me sinto importante, rapaz. (risos)
O plenário também tem a turma do fundão? Tem. O pessoal
 conversa, fica de conversa fiada. Eu não. Eu quero prestar atenção,
 gosto de saber qual é o assunto. Quero saber por quê.
E a fama de que todos os políticos são desonestos incomoda
? O povo de fora acha que quem está aqui em Brasília é ladrão. E não
 é assim. Eu conheço o Alvaro Dias desde quando ele tinha 22 anos.
 Alvaro Dias é um senador mas é uma pessoa hiperdecente. Ele é meu
 amigo. Quando ele assumiu o governo do Paraná ele acabou com
todas as licitações que ele viu que estavam erradas e os caras foram
 lá para comprar ele. Eu vi ele pôr dois advogados para fora na porrada
 da casa dele. Eu fui fazer um show em Curitiba e depois fui jantar na
 casa dele. Quando chegamos no portão dentro do quintal da casa dele
 ele estava dando porrada nos dois advogados: "Fora daqui, bandidos!
Vocês não me compram". Aí ele me disse: "Está tudo bem. Vai lá tomar
 um uísque que eu já venho". Ele tomou um banho, estava todo
 arranhado. Ele tinha rolado com os caras no meio das roseiras.
Depois disse: "Serjão, é brincadeira. O povo não tem vergonha na cara".
 Estavam oferecendo 10 milhões de dólares para ele.
Muitos parlamentares estreantes se sentem frustrados
 quando veem que têm pouco poder sozinhos. O senhor 
também? É assim mesmo, tem que encarar. Eu crio alguns projetos
 para ver se passam. Eu entrei com um projeto obrigando as empresas
 de ônibus e aviação a ter uma pessoa para cuidar dos passageiros.
 É uma judiação deixar esses velhinhos aí. No aeroporto é muito
 comum, às vezes não sabem nem onde é que entra. Outro dia
estávamos lá discutindo o problema do INSS na Comissão de
 Seguridade. Um deputado que é médico contou: "Tem um rapaz
que eu atendi, ele se enfiou embaixo de um caminhão com o carro
e teve que amputar as duas mãos. Ele pediu aposentadoria.
O INSS não aceitou, disse que ele tem capacidade para trabalhar".
 Tem prótese, mas quanto custa uma prótese dessa? Custa 45 mil
reais e o INSS não dá. Então, tem que pegar esse diretor do INSS
 e falar: "Vem cá, vou cortar suas mãos para ver o que você vai fazer".
Existe um excesso de burocracia em Brasília? É a burrocracia
.Tudo aqui é devagar. E eu, como sou muito prático, não gosto de
 atraso. Então é duro: hoje estavam discutindo uma tese que é de
1995. O que é isso? Onde nós estamos? Agora é que estão votando.
 Pelo amor de Deus, põe fogo em tudo e começa tudo de novo.
 Tem que ser assim: entrou o projeto, vota. Rejeita ou aceita, mas
vota na hora.
A Câmara produz pouco considerando o custo de
 funcionamento? Deveria produzir mais, com certeza. Ou então
 ter dois plenários desses de 500 deputados. Põe 1000, mas sai.
Só que encarece tudo.
Além da improdutividade, o que incomoda o senhor?
 O que
 mais cansa aqui é aquele pessoal que vem pedir: "Sérgio,
assina aqui".
 É um tal de assina aqui,
 assina lá. Eu digo que a última vez que eu assinei sem ler,
eu casei. (risos). Nós tivemos uma
reunião do nosso partido lá embaixo, onde é o nosso escritório
central.
 O Celso Russomanno disse:
 "Olha, vocês não votem nem impeachment da Dilma e nem CPI da
 Petrobras". Eu peguei e falei:
 "Celso, acabei de votar lá fora". Ele respondeu: "Você não podia
 fazer isso". Ele continuou:
"Você não devia". Eu finalizei: "Devo".
O senhor está dizendo que assinou o requerimento de 
criação
 da CPI? É. Fui o primeiro da lista. Aí ele me chamou a atenção
 e eu
 falei "Celso: vocês têm coligação com o PT, eu não tenho nada
 com isso.
 Eu voto naquilo que eu achar bom para o meu povo. Eu quero
saber
 onde está o meu dinheiro. Esse dinheiro é meu, é teu, é de todos
 aqui.
 Tiraram aquela tia lá da Petrobras, puseram o cara do Banco do
Brasil
 que também tem a vida suja, e cadê o dinheiro? Ninguém vai
 trazer o
 dinheiro de volta? Mas o Celso falou: "Serjão, toda vez que vier
para
 você assinar desses aí, fala: 'O meu líder assinou?' O que eu não
 assinei
você não assina'". Agora eu faço isso.
Já sabe quando fará o primeiro discurso em plenário?
Não tenho previsão, não tenho pressa. O pessoal vai lá para o
 plenário
 porque eles querem mostrar para o povo deles que eles estão
 trabalhando. E eu estou cansado de trabalhar em televisão
(risos). O povo já sabe quem sou eu.
O que o senhor pensa sobre a proposta de redução 
da maioridade penal? De forma geral, a lei é muito frouxa.
Acho que nós deveríamos olhar para os Estados Unidos e
aproveitar alguma coisa deles. Lá, se o menor matar vai para a
cadeia, não tem conversa. Não tem negócio de idade. Se ele tem
 força para puxar um gatilho vai para a cadeia. Aí entram os
 direitos humanos. Mas na hora em que um bandido desses
matar um filho de um senhor dos direitos humanos, quero ver o
 que ele vai fazer. Vai ver como dói no coração. Vai ver se é bom
 deixar bandidos soltos. Nós não vamos ter espaço para tanto
preso, mas tem que construir. Pode começar já. Não uma cadeia
 fechada, mas algo para eles trabalharem e se recuperarem.
A corrupção aumentou nos últimos anos ou é a
 percepção das pessoas que mudou? É difícil medir.
Como a gente iria adivinhar que esse pessoal do esporte
mundial mexia com tanto dinheiro? O Ricardo Teixeira
 movimentou 464 milhões. É brincadeira, né amigo?
Ainda o Pelé vai lá e fala bem dele. Pô, Pelé, acorda!
Ele está la dentro e não sabe? Não pode ficar fazendo
 média com amigo. Se o amigo roubou vai pra a cadeia.
Como é que você vai apoiar um cara que rouba o próximo,
 do jeito que está o país. É aí que eu não sei como é que o
 Lula dorme, a Dilma dorme, como é que esse pessoal do PT
 que administra o país dorme. Eu estava vendo uma reportagem
sobre uma cidade lá no interior do Piauí que nunca viu luz
 elétrica. Não cabe no século XXI ter o dinheiro que nós temos
 e a moça passando o ferro como minha avó passava 80 anos
atrás, com carvão. Não é um ser humano quem administra o
Brasil assim. Desculpem, mas um ser humano normal não
 deixaria acontecer uma coisa dessas. E isso acontecia mesmo
 antes do PT.
O senhor vai tentar a reeleição? De repente eu busco a
reeleição. Por que não? E venho morar aqui. A Ângela (mulher
do deputado) adora Brasília, eu estou gostando também. Aí mudo
 de vez, eu vendo o que nós temos lá e venho para cá. Termino
minha vida de velho aqui. Eu nunca gostei de Brasília porque
 falava: "Aqui tem muito homem de preto para o meu gosto".
E agora eu estou de preto. Paguei a língua.

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