quarta-feira, 27 de abril de 2016

Uma pequena crônica, mas um GRANDE alerta.  


Melhor não duvidar (ocorreu em um consultório)
Chamei a próxima cliente reparando na singularidade da sua graça: nome inglês com sobrenome castelhano.
Entrou uma jovem mestiça de uns trinta anos, morena, tez com traços africanos mas com cabelos negros e lisos de ameríndia. A estatura mediana, corrigida pelo salto alto, realçava-lhe as curvas típicas da raça negra.
Belíssima.
__Bom dia. Saudei-a.
__Bom dia. Respondeu com o sotaque hispânico que me chamou a atenção.
Solicitei que entrasse no banheiro e se trocasse para a ultrassonografia ginecológica. Fê-lo prontamente e logo deitou-se à maca.
Dei início ao exame, procurando puxar assunto para quebrar o gelo, como de praxe.
__A senhora vem de onde?
__Venezuela.
__Ah!  E trouxe alguma miss? Brinquei.
__Não. Respondeu rindo.__Estão todas lá.
__Teve uma que morreu, não foi?
__Morreu não. Mataram.
__Como anda a situação por lá?
__Horrível. Muito brava mesmo.
__O governo tem perseguido muita gente?
__Tem sim.
__Sei que a inflação anda astronômica. O dólar disparou. Ouço falar em escassez de produtos...
__Verdade. Mas a crise maior nem é econômica. É social. Nós médicos, por exemplo, em Caraças, não conseguimos trabalhar em paz. Estão sempre de olho.
Se não atendermos bem... (Fez uma careta). Até cadáver temos de socorrer porque as paredes têm olhos e ouvidos. Por pequenos deslizes, levam-nos para uma favela qualquer e aí... Já viu.
__Ah! A senhora é médica? Resolveu fugir para cá?
__Sim. Mas, pelo que eu vejo, o Brasil está no mesmo caminho.
__Acha mesmo? Perguntei já meio que concordando com ela.
__Tenho certeza. Na Venezuela foi igualzinho. Muita gente duvidava de que os socialistas tomariam o país. Começou como aqui, com um programa semelhante ao bolsa-família, depois desarmamento da população civil, depois um programa de importação de médicos cubanos, isso tudo acrescido de casos e mais casos de corrupção política.
__Hum...
__Nas eleições acontecia a mesma coisa: os vermelhos sempre ganhavam por 51% a 49% dos votos. Idêntico ao último pleito no Brasil.
__Acha que houve fraude?
__Acho nada. Não há mais dúvidas quanto a fraude nas eleições.
__Na verdade, Brasil, Venezuela, Bolívia e Equador seguem a cartilha do Foro de São Paulo.
Achei que ela não saberia do que se tratava, mas para minha surpresa ela
respondeu:
__Exatamente. O Foro foi fundado por Fidel Castro e Lula, com participação fundamental do nosso Hugo Chávez. É o Foro de São Paulo que comanda tudo o que está acontecendo nesses países. E não se engane não: na Venezuela havia um clima assim como está hoje no Brasil:  muita gente duvidando do poder socialista. Foi muito rápido. Questão de dois anos e deu no que deu.
__Mas aqui nós não iremos permitir.
Ela riu ironicamente e continuou:
__Se este governo não cair agora, pode esperar pelo pior. A bomba socialista estoura de repente.
__Nem me fale. Dá até medo. Acha que a pobreza aumentou ou diminuiu na Venezuela?
__Para os pobres acho que piorou. Para classe média ficou impraticável.
Estão todos deixando o país. Não tem como ficar lá mais.
__Isso é muito ruim.
__Demais.
__Os impostos aumentaram muito, não é?
__Muito. Aqui também estão aumentando, viu? Exatamente igual ao que foi lá.
Fico impressionada de ver a semelhança. Mas os brasileiros parecem hipnotizados, assim como estávamos nós há quatro ou cinco anos. Incrível!
Estive lá recentemente. Queria ficar um mês com a minha família. Não consegui passar nem uma semana.
__Por quê?
__Muito difícil viver lá. Violência demais. Impossível sair de casa.
__Entendo.
__E é incrível. Em todo lugar na Venezuela só se fala em política.
Exatamente como aqui nos últimos dias.
__E nada de o Maduro apodrecer. Brinquei.
__Podre ele já é. Só não cai. Pensa que o governo do PT vai cair também?
Doce ilusão! Na Venezuela nós paramos o país! Greve geral por sessenta e poucos dias. População tomando as ruas. Quem sofreu?  O povo! O governo não arredou pé. Vocês não acreditam, mas eu estou vendo aqui a reprise do filme a que assisti no meu país. Não tem o que tirar nem pôr.
Deu-se uma pausa. Medi o útero e fotografei. Depois continuei.
__Mas então, creio que a senhora fugiu para o país errado.
__Parece que sim. Respondeu meio enternecida.
Dei o diagnóstico. Ela agradeceu, depois entrou no banheiro, trocou-se e saiu sem demora. Desejei-lhe boa sorte.
__Boa sorte para nós, respondeu. Iremos precisar muito. Esses governos não caem assim não. Não adianta povo na rua, greve geral, processo na justiça, nada disso. Eu vim para o Brasil fugindo do socialismo e estou vendo vocês trilharem o mesmo caminho pelo qual passamos.
__Imagino.
__Não tem jeito. Para nos livrarmos dessa gente, terá de ser derramado sangue. E não é sangue de Maduro nem de Lula não. É sangue de gente inocente.
__Espero que não. E oro por isso.
__Eu já orei muito. Cansei.
Esbocei expressão de desesperança. Ela retribuiu da mesma forma.
__Espero vê-la de novo.
__Igualmente.
Ela atravessou a porta e desapareceu. Senti um peso mas costas, um misto de pena dela e de nós todos. Sem outra opção, chamei o próximo cliente.

#AndréPaschoal


PS:  DOMINGUEZ  eu tive durante 1 ano uma colega de trabalho Venezuelana que insistia em me dizer esta mesma coisa aí de cima.


--
CBB-Ninho

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