A RODOVIA DOS TAMOIOS E A FORÇA PÚBLICA
Coronel Reformado da PMESP
Trabalho monográfico - Pesquisa histórica sobre a abertura do
traçado e da construção da primitiva estrada de rodagem que
ligou o planalto, através da região de Paraibuna aos municípios
de Caraguatatuba e São Sebastião, no litoral norte do Estado de
São Paulo, na década de 1930.
É uma contribuição singela e despretensiosa para restabelecer
aspectos históricos da Rodovia dos Tamoios (atual SP 99), dos
municípios por ela servidos e, sobretudo em enaltecer e honrar a
memória dos milicianos da Força Pública, em especial a do
Coronel da FPESP Edgard Pereira Armond, à época Capitão, que
num rasgo de dedicação, altruísmo e espírito patriótico,
embrenharam-se naquela inóspita serra e densa mata para a
construção daquela rodovia.
Honraram e dignificaram a nossa Força Pública, hoje Polícia
Militar do Estado de São Paulo.
SUMÁRIO:
1. Minha viagem a Caraguatatuba.
2. O CORONEL FP EDGARD PEREIRA ARMOND E SUA CARREIRA MILITAR.
3. O CAPITÃO FP ARMOND, UM DOS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELA CONSTRUÇÃO DA
TAMOIOS.
4. EDGARD PEREIRA ARMOND E O MOVIMENTO ESPÍRITA.
5. O RECONHECIMENTO AO CORONEL ARMOND.
6. ARMOND – ORADOR E ESCRITOR.
7. A ATUAL RODOVIA DOS TAMOIOS
8. CONCLUSÃO
9. Anexos
10. Bibliografia
1. MINHA VIAGEM A CARAGUATATUBA
Numa recente estadia àquela bonita e simpática estância, visitei o seu Museu de Arte e
Cultura (MACC) onde vi antigas fotos da construção da estrada dos Tamoios em
exposição, e em uma delas, observei um acampamento de milicianos da Força Pública,
uniformizados e em plena atividade na abertura daquela rodovia.
Visitei também o Arquivo "Arino Sant'Ana de Barros onde, suas diletas funcionárias me
apresentaram mais fotos e registros da abertura daquela estrada. Embora já tivesse
ligeira e vaga informação anterior da participação da Força Pública naquela
construção, entusiasmei-me ao ver a tamanha amplitude e magnitude do evento. E
aprofundando nas pesquisas, decidi escrever e transcrever os dados encontrados, para
divulgação especialmente aos camaradas de Corporação. Em sendo modesto, pequeno
e obscuro historiador e ainda menor como escritor, é com imensa honra e profunda
sinceridade que transcrevo relatos de tão grandiosa e expressiva obra de
companheiros de Corporação, daquela "Legião de Idealistas" como é entoado em
nosso hino.
2. O CORONEL FP EDGARD PEREIRA ARMOND E SUA CARREIRA MILITAR.
O Coronel Armond da Força Pública e o engenheiro João Fonseca, do D.E.R., foram os
grandes responsáveis pela abertura e construção da antiga Tamoios. O Oficial teve
brilhante carreira militar. Foi uma pessoa muito decidida, disciplinada, séria e firme.
Nascido em Guaratinguetá, em 14 de junho de 1894, filho de Henrique Ferreira
Armond e de Leonor Pereira de Souza Armond, mineiros, descendentes de tradicional
família francesa, que se fixaram em Juiz de Fora (MG). Fez seus cursos primários e
secundários em Guaratinguetá, prosseguindo seus estudos em São Paulo e Rio de
Janeiro. Em 10 de maio de 1915 alistou-se como Praça na Força Pública do Estado de
São Paulo. Em 1916, já como sargento ingressou na Escola de Oficiais, sagrando-se
Aspirante a Oficial em 1918. Casou-se com Nancy de Menezes, filha do Marechal de
Exército Manoel Felix de Menezes. Como 2º tenente comandou destacamentos de
Santos, São João da Boa vista e Amparo. Organizou e foi diretor da Biblioteca da FP.
Lecionou História, Geografia e Geometria na Escola de Oficiais da FP. Nas revoluções
de 1922 e 1924 integrou a tropa de ocupação nas fronteiras com a Argentina e
Paraguai. Na Revolução de 1930, já como Capitão foi designado instrutor da Escola de
Oficiais e do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. Participou da Revolução
Constitucionalista de 32, quando assumiu o comando da defesa do litoral entre a divisa
com o Estado do Rio de Janeiro, com a missão de monitorar os movimentos da
Marinha, que mantinha diversos navios de guerra nas águas de São Sebastião. Com o
término da Revolução de 32 foi nomeado Chefe de Polícia do Estado, vindo a compor a
Casa Militar do Governador Militar, General Waldomiro Lima. Em 1934 assumiu o
subcomando da Escola de Oficiais. Organizou a Inspetoria Administrativa da FP. Como
Tenente Coronel assumiu a Chefia do Serviço de Intendência e Transporte. Em 28 de
junho de 1938 sofreu um acidente automobilístico grave onde quebrou seus dois
joelhos sendo transferido para o Quartel General e em 1940 foi reformado por
invalidez. Instalou-se definitivamente na cidade de São Sebastião à qual muito se
apegou. Faleceu em 1982 no Hospital Oswaldo Cruz em São Paulo, tendo sido
sepultado no Cemitério de Vila Mariana, em São Paulo.
3. O CAPITÃO FP ARMOND, UM DOS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELA
CONSTRUÇÃO DA TAMOIOS.
A viagem á São Sebastião – Em dezembro de 1931, em férias, Armond embarcou em
Santos no vapor Iraty com destino a São Sebastião. À bordo conheceu o ex-deputado
estadual José Hipólito do Rego, natural daquela cidade e, juntos conversaram sobre o
estado decadente da região e da necessidade de comunicações terrestres com o
planalto, pois o litoral norte estava abandonado. Neste ano publicou pela Tipografia da
Força Pública "Lições de Topografia Ligeira".
As ligações com o planalto – As ligações existentes eram de Parati para Cunha, de
Ubatuba para São Luiz de Paraitinga. Caraguatatuba ligava-se com Paraibuna através
de caminhos estreitos, íngremes e acidentados, de existência muito antiga com
trânsito só para pedestres, cavaleiros e cargueiros, com trânsito muito difícil, com
erosões contínuas pelo efeito das chuvas, e quase sempre obstruídas por árvores e
pedras desbarrancadas. O trânsito marítimo também era deficiente e irregular. Os
governos estadual e municipais pouco se interessavam por essa zona do litoral,
inertes, isoladas e alheadas do então dinâmico progresso por que ocorria em outras
regiões do Estado. As terras férteis e suas praias maravilhosas permaneciam
abandonadas e desconhecidas pelos demais paulistas.
O interesse o Capitão Armond – Tomando conhecimento da situação precária da
região, Armond contatou com o prefeito Emydio Orceli e outros políticos locais e nele
brotou-se um grande interesse na construção de uma estrada de rodagem que fizesse
a ligação efetiva com o Vale do Paraiba. Começou a estudar o assunto e a pesquisar
dados e elementos para a empreitada que se anunciava.
O encontro e pedido ao General Miguel Costa – Em 20 de janeiro de 1932, ao término
das férias e no regresso a São Paulo, procurou o Comandante Geral da FPESP, General
Miguel Costa, de quem tinha relações de amizade, resumiu suas observações e seu
interesse. Convencido, o Cmt G ordenou que organizasse um plano de ação, que fosse
viável e dentro das possibilidades do Governo.
O Plano de Ação – Armond elaborou e apresentou o seguinte projeto para a abertura
de uma estrada de rodagem entre Paraibuna e São Sebastião, ligando o Planalto
Central e o sul de Minas Gerais ao Litoral Norte Paulista, calcado nas seguintes bases:
1º - Construção feita em combinação com a Secretaria de Viação do Estado,
2º - Material e Ferramentas fornecidos pela Secretaria,
3º - Mão de obra seria de soldados da Força Pública, sendo para tal criada uma
Companhia de Sapadores,
4º - Direção Geral e administração da exclusiva competência da Força Pública.
5º - A alimentação da tropa seria fornecida pelas populações interessadas.
Como o empreendimento não se configurasse como missão ou tarefa específica de
atribuição da Corporação, o projeto padeceu de grandes embaraços até a sua
aprovação final.
Aprovado o plano pelo Cmt G, Armond foi credenciado para realizar os entendimentos
com a Secretaria da Viação, Cel Mendonça Lima, e com o Diretor de Estradas de
Rodagem, João Fonseca de Camargo.
O Boletim nº 32, do Quartel General – Em 11 de fevereiro de 1932 o referido boletim
assim transcrevia: "Construção de estrada de rodagem – Como contribuição de
trabalho e participação nos interesses do povo, a Força Pública do Estado vai executar,
de combinação com a Secretaria da Viação, a construção da estrada de rodagem
"Paraibuna até o porto de São Sebastião", estabelecendo assim a ligação do litoral com
o planalto da Serra do Mar. A Força Pública, assim procedendo, confirma mais uma vez
o seu passado heroico de operosidade e de boa vontade e reafirma seus objetivos
seculares de devotamento à causa pública e à crescente grandeza de São Paulo. É
designado o Capitão Edgard Pereira Armond, do C.I.M. para assumir a direção Geral
dos serviços da referida construção".
O reconhecimento do terreno – Em 16 de fevereiro, em companhia de João Fonseca
do DER, Armond realizou pessoalmente o reconhecimento e demais estudos,
escolhendo Paraibuna, a 35 km de São José dos Campos como base inicial. Após 3,30
horas de automóvel, alcançaram a ponta extrema da estrada carroçável, na altura do
km 35. Desse ponto o Dr Fonseca regressou e Armond prosseguiu à cavalo pelo
caminho de cargueiros até Caraguatatuba, aonde chegou ao fim da tarde. Reconheceu
toda a Enseada de Caraguatatuba até a barra do Rio Juqueriquere, até a ponta do
Arpoar, Serra do Don, até o bairro de São Francisco, chegando à cidade de São
Sebastião. O reconhecimento foi feito a pé, abrindo-se picada nova, carregando
víveres nas costas e quase sempre debaixo de chuvas. Gastaram cerca de 20 dias nessa
exploração.
A opção pela construção na Serra de Caraguatatuba – Armond relatou ao General
Miguel Costa sua opção em construir na Serra de Caraguatatuba, pelas seguintes
razões:
1- Melhores condições topográfico-geológicas,
2- Aproveitamento de 42 Km carroçáveis, de Paraibuna ao Alto da Serra,
3- Descer a estrada diretamente a um local já habitado e com lavoura,
4- Conjugação da linha a construir com o Sul de Minas, por Buquira, dando aspecto
de interesse nacional,
5- Interesse estratégico, abrangendo a base naval de São Sebastião a Central do
Brasil, a rodovia São Paulo-Rio de Janeiro e os centros de abastecimento de
Paraibuna, Natividade e Salesóplis.
Tanto o Cmt G da FPESP (Gen Miguel Costa) como o Secretário da Viação (Cel
Mendonça Lima) aprovaram o plano. Este último transferiu a verba de 50 contos à
Força Pública para aquisição de ferramentas e material.
O início dos trabalhos – Em 12 de abril de 32, com 38 anos, sem contar com recursos
materiais, utilizando 15 praças da própria Força Pública, na maioria soldados prestes a
serem desincorporados, iniciou no topo da serra de Caraguatatuba, a abertura da
rodovia, começando pelo trecho mais difícil, dirigindo pessoalmente os trabalhos.
Instalou as quinze praças no Alto da Serra, e lavrou a ata oficial (anexo 1), dando como
inaugurados os trabalhos de construção da estrada pela Força Pública. Como era
reduzidíssimo e insuficiente o número de somente 15 praças da FP para executar o
serviço de tamanha envergadura, Armond lançou mão da verba de 50 contos e
contratou uma turma de cerca de 30 auxiliares civis, os quais trabalhavam juntos com
a turma militar e eram dirigidos e administrados diretamente por ele.
A suspensão da verba - Em maio, com a saída do Gen Miguel Costa do Comando da FP,
e do Coronel Mendonça Lima da Secretaria da Viação, o novo Secretário Fonseca Telles
suspendeu imprevistamente a verba concedida. Técnicos da Secretaria achavam que a
estrada deveria ser construída pela serra de São Sebastião e não, pela serra de
Caraguatatuba. Armond, junto com 14 municipalistas da região protestaram e
solicitaram e a designação de comissão para inspecionar as obras e dar parecer a
respeito. A comissão foi nomeada e composta por diretores do DER, Carlos Quirino
Simões e Aristeu Reis, juntamente com o Major Euclides Machado Chefe do Serviço de
Engenharia da FP. Inspecionado o serviço e estudado o traçado, a comissão não só
aprovou como recomendou o Secretário a conceder nova verba de 200 contos- para o
prosseguimento das obras.
A eclosão da Revolução de 32 – Em julho, com a eclosão do Movimento
Revolucionário de 32, Armond suspendeu os trabalhos, dispensou os civis, com
exceção dos cavoqueiros que trabalharam mesmo durante a revolução. A turma militar
foi enquadrada em tropas irregulares, compondo o "Grupamento Cap Armond".
Armond assumiu o comando do litoral, monitorando os movimentos da Armada que
mantinha diversos navios de guerra em São Sebastião. Organizou e comandou tropas
inicialmente em Paraibuna e Caraguatatuba e, depois no Sul do Estado em Itaí, Taquari
e Avaré. Terminado o conflito, no período de transição, foi nomeado Chefe de Polícia
do Estado de São Paulo, vindo a compor a Casa Militar do Governador Militar do
Estado, General Waldomiro Lima.
O Batalhão de Sapadores – Sessenta dias após pediu demissão daqueles cargos, sendo
designado para comandar o Batalhão de Sapadores criado para dar continuidade à
construção da estrada. Conseguiu sensibilizar o governo para que lhe desse os meios
necessários. Em 8 de dezembro deixou o cargo de Ajudante de Ordens do General
Waldomiro Lima, sendo designado para organizar o Batalhão. Em 9 assumiu o
comando interino. Em 25 os integrantes da 2ª companhia estavam concentrados no
Alto da Serra. Em 4 de fevereiro fixou a sede do Batalhão e da 3ª Companhia em
Paraibuna. Os efetivos foram assim distribuídos:
1ª Cia. 120 homens – Trecho Rio Ouro –Alto
2ª Cia. 130 homens – Trecho Alto – Rio Ouro
3ª Cia. 120 homens – Trecho Paraibuna – Alto.
Em 14 de fevereiro assumiu o comando do Batalhão o Ten Cel Júlio Limeira da Silva, do
Exército Nacional, permanecendo até fins de julho. Com a saída do Ten Cel Limeira,
Armond assumiu novamente o comando do Batalhão, até a designação do Ten Cel
Salvador Moya.
A 4ª Companhia de Sapadores – Em 18 de setembro o Cmt G da FP criou a 4ª
Companhia Independente de Sapadores (CIS), desagregada do Batalhão de Sapadores,
dando o seu comando ao Cap Armond, para com autonomia administrativa de Cia
Isolada, com a missão de prosseguir na construção da rodovia de Paraibuna ao Porto
de São Sebastião.
Em 1935, a 4ª Companhia anexada ao Regimento de Cavalaria, denominada
Companhia de Sapadores era formada pelos seguintes oficiais:
- Comandante: Capitão Edgard Pereira Armond,
- Ajudante Secretário: 2º Tenente Artur Goisolfe de Castro
- Cmt. De Seção: 1º Tenente Heli Fernandes Da Câmara
- Cmt. De Seção: 2º Tenente Acácio Silva
- Cmt. De Seção: 2º Tenente João Pereira da Cruz
- Médico: Geraldo Ribeiro
Estado da obra em fevereiro de 1933 –
- No Alto da Serra:
-estrada já aberta, com 3 metros de largura, com rampa de 8%, dependendo só de
alargamento.
-extensão locada definitivamente ................................................. 2030 metros,
-extensão atacada .......................................................................... 1600 "
- extensão alargada com 5 metros ..................................................... 1600 metros.
-Efetivo empregado – homens em média ..........................................................170
Em Caraguatatuba:
-extensão locada provisoriamente com 2 metros de largura ........... 6850 metros
-extensão locada definitivamente ..................................................... 3600 "
-extensão alargada para 5 metros .................................................... 3150 "
- extensão atacada ............................................................................. 10450 "
-Efetivo empregado – homens em média ............................................ 100
Os Relatórios dos Serviços – Armond relatava periodicamente ao Comandante Geral
da FP as atividades efetuadas e o progresso na construção da estrada.
- 1º Relatório - ao Cel Dimas Siqueira Menezes, Cmt G da FP - em Fevereiro de 1933
- 1º Relatório – ao Cel Alkindar Pires Ferreira, Cmt G da FP - em Agosto de 1933
- 2º Relatório – ao Cel Penedo Pedro, Cmt G da FP - em Dezembro de 1933
- de dezembro de 1933 a agosto de 1934, data da suspensão dos serviços da
Companhia de Sapadores, Armond encaminhou relatórios mensais a serem arquivados
no Comando Geral. Em fins de 1934 foram suspensos os trabalhos da turma militar
para, segundo Armond, "satisfazer injunções políticas e dar empreitadas a
interessados".
4. EDGARD PEREIRA ARMOND E O MOVIMENTO ESPÍRITA
Armond teve um papel fundamental na história do Espiritismo, participando de todos
os grandes momentos do movimento espírita. Foi maçom, professor e espírita
brasileiro. Em 1921, quando comandante na cidade de Amparo, ingressou na
maçonaria, alcançando o grau de mestre. Sua conversão se deu após sofrer o grave
acidente automobilístico, em junho de 1938, onde quebrou ambos os joelhos sendo
submetido a diversas cirurgias, ficando sem quase poder andar por seis meses. Foi
convidado por Bezerra de Menezes a colaborar com a Casa dos Espíritas do Brasil
sendo eleito secretário geral da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Fundou o
periódico "O Semeador" difundindo as ideias doutrinárias, no qual sob pseudônimos
escreveu cerca de quatrocentos e vinte e cinco artigos. Em 1947 fundou a União Social
Espírita (USE), posteriormente denominada de União das Sociedades Espíritas,
fortalecendo o movimento espírita e unificando as suas práticas religiosas. Em 1950
criou as Escolas de Aprendizes do Evangelho, com cursos previstos por Allan Kardec em
"Obras Póstumas", criou a metodologia dos passes e instituiu as Escolas de Médiuns.
Era um médium intuitivo, parecido com Kardec. Em 1973, com alguns companheiros,
fundou a Aliança Espírita Evangélica. Armond formou-se em odontologia pela Escola
de Odontologia e Farmácia do Estado abrindo escritório no Brás, atendendo
voluntariamente pessoas necessitadas.
5. O RECONHECIMENTO AO CEL ARMOND –
A abertura da estrada propiciou o desenvolvimento daquela região, até então quase
inacessível, beneficiando certamente a população sofrida de Paraibuna, Natividade da
Serra, Salesópolis, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela, que não tinham
sequer condições mínimas de atendimento médico hospitalar e sem condições de
transporte para outros locais. O Cel Armond teve seu trabalho reconhecido, sendo que
São Sebastião deu seu nome a uma das ruas da cidade. O Governo do Estado, através
do Decreto Estadual de 29 de setembro de 1993 e através da Polícia Militar, adotou o
se nome como patrono do 20º Batalhão da Polícia Militar do Interior, inicialmente
sediado em São Sebastião e hoje, com sede em Caraguatatuba. Em março de 1997 o
jornal "O Ancoradouro" de São Sebastião publicou matéria sob o título: "Edgard
Armond: o homem que colocou o litoral norte no mapa", concluindo que aquela bela
região mergulhada em amplo isolamento até o começo da década de 1930 teve
profundas mudanças, libertando-se do seu esquecimento, mudando o estado de coisas
em consequência da iniciativa da personalidade inteligente e arrojada do Coronel
Edgard Pereira Armond. Várias cidades têm ruas com seu nome, São Paulo, São
Sebastião, Guaratinguetá.
6. ARMOND – ORADOR E ESCRITOR
. 1931 – Discurso (anexo 2). Em 24 de outubro de 1931 proferiu brilhante discurso na
sede da Liga de Esportes, primeiro aniversário do triunfo da Revolução Nacional, no
ato de entrega ao General Miguel Costa de uma espada de ouro, homenagem da
oficialidade da Força Pública Paulista.
. 1931 – Lições de Topografia Ligeira.
. 1942 – Contribuições ao Estudo da Mediunidade.
. 1943 – Mediunidade de Prova.
. 1944 – Desenvolvimento Mediúnico.
. 1944 – Missão Social dos Médiuns.
. 1949 – Os Exilados da Capela.
. 1950 – Passes e Irradiações.
. 1962 – Na Cortina do Tempo.
. Pela internet é possível acessar cerca de 227 títulos de livros escritos por Edgar
Pereira Armond
7. A ATUAL RODOVIA DOS TAMOIOS -
Foi oficialmente inaugurada em 1938 como "obra civil".
Em 1957, no Governo Jânio Quadros, a rodovia foi pavimentada, pois em época de
chuvas, antes do asfalto, a estrada ficava praticamente intransitável.
Em 1970, o DER executou significativos melhoramentos de traçado (planta e perfil)
entre São José dos Campos e Paraibuna.
Em 2014 o trecho do planalto da serra, entre o Km 60,4 e 82, foi duplicado.
A partir de 16 de abril de 2015, a Rodovia dos Tamoios que era administrada pela
DERSA, passou a ser operada pelos próximos 30 anos pela Concessionária Tamoios,
empresa pertencente ao Grupo Queiroz Galvão. O Governador Geraldo Alkmin ao
autorizar a transferência assim se pronunciou: "A rodovia liga o eixo mais
industrializado do mundo; o eixo Rio-São Paulo com o litoral norte, lugar que mais
cresce com o turismo, com a estação do pré-sal em Caraguatatuba e o porto de
Santos".
A Estância de Caraguatatuba e o D.E.R. erigiram um monumento em bronze, na Praça
do Centenário, na entrada da cidade, homenageando o engenheiro Dr. João Fonseca
de Camargo e Silva.
O DER, órgão da Secretaria de Logística e Transportes, cita em seu site "Histórico de
Rodovias" que a SP 099 foi construída pelo DER.
A denominação "Rodovia dos Tamoios" foi dada através da Lei 1796, de 18/10/1978, e
constitui referência histórica ao nome de uma tribo indígena que habitava o litoral
norte do estado e o litoral fluminense.
8. CONCLUSÃO
Lamentável, injusta e inexplicavelmente; nenhuma citação à Força Pública, às suas
Unidades de Sapadores e ao Coronel Edgard Pereira Armond, sem nenhuma
referência ao esforço, dedicação, boa vontade e ao suor do soldado que ali lutou e
sofreu nos trabalhos mais pesados, pioneiros e primeiros responsáveis pelo traçado
e maior parte da construção daquela rodovia, que bem poderia ser chamada de
"Rodovia Comandante Armond".
9. Anexos:
a. – Ata do início dos trabalhos da construção da estrada.
b. - Discurso ao General Miguel Costa
c. - Fotos do Coronel Armond
d. - Fotos e reportagens
10. Bibliografia
. No Tempo do Comandante – Edelso da Silva Júnior.
. Filme "Edgard Armond – A influência de Edgard Armond no Movimento Espírita".
. ARMOND, Ismael. Edgard Armond, meu pai. São Paulo: Editora Aliança, 2001.
. Armond, Ismael. Edgard Armond: Um Trabalhador da Seara Espírita. São Paulo:
Editora Aliança, 2002.
. Jornal Espírita "O Trevo". São Paulo: Editora e Distribuidora Aliança, nºs 106, 1982.
- Relatórios e documentos do Cap Armond.
Nazaré Paulista, 20 de setembro de 2015.
oscarpinheiro@terra.com.br
Coronel Reformado da PMESP
Trabalho monográfico - Pesquisa histórica sobre a abertura do
traçado e da construção da primitiva estrada de rodagem que
ligou o planalto, através da região de Paraibuna aos municípios
de Caraguatatuba e São Sebastião, no litoral norte do Estado de
São Paulo, na década de 1930.
É uma contribuição singela e despretensiosa para restabelecer
aspectos históricos da Rodovia dos Tamoios (atual SP 99), dos
municípios por ela servidos e, sobretudo em enaltecer e honrar a
memória dos milicianos da Força Pública, em especial a do
Coronel da FPESP Edgard Pereira Armond, à época Capitão, que
num rasgo de dedicação, altruísmo e espírito patriótico,
embrenharam-se naquela inóspita serra e densa mata para a
construção daquela rodovia.
Honraram e dignificaram a nossa Força Pública, hoje Polícia
Militar do Estado de São Paulo.
SUMÁRIO:
1. Minha viagem a Caraguatatuba.
2. O CORONEL FP EDGARD PEREIRA ARMOND E SUA CARREIRA MILITAR.
3. O CAPITÃO FP ARMOND, UM DOS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELA CONSTRUÇÃO DA
TAMOIOS.
4. EDGARD PEREIRA ARMOND E O MOVIMENTO ESPÍRITA.
5. O RECONHECIMENTO AO CORONEL ARMOND.
6. ARMOND – ORADOR E ESCRITOR.
7. A ATUAL RODOVIA DOS TAMOIOS
8. CONCLUSÃO
9. Anexos
10. Bibliografia
1. MINHA VIAGEM A CARAGUATATUBA
Numa recente estadia àquela bonita e simpática estância, visitei o seu Museu de Arte e
Cultura (MACC) onde vi antigas fotos da construção da estrada dos Tamoios em
exposição, e em uma delas, observei um acampamento de milicianos da Força Pública,
uniformizados e em plena atividade na abertura daquela rodovia.
Visitei também o Arquivo "Arino Sant'Ana de Barros onde, suas diletas funcionárias me
apresentaram mais fotos e registros da abertura daquela estrada. Embora já tivesse
ligeira e vaga informação anterior da participação da Força Pública naquela
construção, entusiasmei-me ao ver a tamanha amplitude e magnitude do evento. E
aprofundando nas pesquisas, decidi escrever e transcrever os dados encontrados, para
divulgação especialmente aos camaradas de Corporação. Em sendo modesto, pequeno
e obscuro historiador e ainda menor como escritor, é com imensa honra e profunda
sinceridade que transcrevo relatos de tão grandiosa e expressiva obra de
companheiros de Corporação, daquela "Legião de Idealistas" como é entoado em
nosso hino.
2. O CORONEL FP EDGARD PEREIRA ARMOND E SUA CARREIRA MILITAR.
O Coronel Armond da Força Pública e o engenheiro João Fonseca, do D.E.R., foram os
grandes responsáveis pela abertura e construção da antiga Tamoios. O Oficial teve
brilhante carreira militar. Foi uma pessoa muito decidida, disciplinada, séria e firme.
Nascido em Guaratinguetá, em 14 de junho de 1894, filho de Henrique Ferreira
Armond e de Leonor Pereira de Souza Armond, mineiros, descendentes de tradicional
família francesa, que se fixaram em Juiz de Fora (MG). Fez seus cursos primários e
secundários em Guaratinguetá, prosseguindo seus estudos em São Paulo e Rio de
Janeiro. Em 10 de maio de 1915 alistou-se como Praça na Força Pública do Estado de
São Paulo. Em 1916, já como sargento ingressou na Escola de Oficiais, sagrando-se
Aspirante a Oficial em 1918. Casou-se com Nancy de Menezes, filha do Marechal de
Exército Manoel Felix de Menezes. Como 2º tenente comandou destacamentos de
Santos, São João da Boa vista e Amparo. Organizou e foi diretor da Biblioteca da FP.
Lecionou História, Geografia e Geometria na Escola de Oficiais da FP. Nas revoluções
de 1922 e 1924 integrou a tropa de ocupação nas fronteiras com a Argentina e
Paraguai. Na Revolução de 1930, já como Capitão foi designado instrutor da Escola de
Oficiais e do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. Participou da Revolução
Constitucionalista de 32, quando assumiu o comando da defesa do litoral entre a divisa
com o Estado do Rio de Janeiro, com a missão de monitorar os movimentos da
Marinha, que mantinha diversos navios de guerra nas águas de São Sebastião. Com o
término da Revolução de 32 foi nomeado Chefe de Polícia do Estado, vindo a compor a
Casa Militar do Governador Militar, General Waldomiro Lima. Em 1934 assumiu o
subcomando da Escola de Oficiais. Organizou a Inspetoria Administrativa da FP. Como
Tenente Coronel assumiu a Chefia do Serviço de Intendência e Transporte. Em 28 de
junho de 1938 sofreu um acidente automobilístico grave onde quebrou seus dois
joelhos sendo transferido para o Quartel General e em 1940 foi reformado por
invalidez. Instalou-se definitivamente na cidade de São Sebastião à qual muito se
apegou. Faleceu em 1982 no Hospital Oswaldo Cruz em São Paulo, tendo sido
sepultado no Cemitério de Vila Mariana, em São Paulo.
3. O CAPITÃO FP ARMOND, UM DOS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELA
CONSTRUÇÃO DA TAMOIOS.
A viagem á São Sebastião – Em dezembro de 1931, em férias, Armond embarcou em
Santos no vapor Iraty com destino a São Sebastião. À bordo conheceu o ex-deputado
estadual José Hipólito do Rego, natural daquela cidade e, juntos conversaram sobre o
estado decadente da região e da necessidade de comunicações terrestres com o
planalto, pois o litoral norte estava abandonado. Neste ano publicou pela Tipografia da
Força Pública "Lições de Topografia Ligeira".
As ligações com o planalto – As ligações existentes eram de Parati para Cunha, de
Ubatuba para São Luiz de Paraitinga. Caraguatatuba ligava-se com Paraibuna através
de caminhos estreitos, íngremes e acidentados, de existência muito antiga com
trânsito só para pedestres, cavaleiros e cargueiros, com trânsito muito difícil, com
erosões contínuas pelo efeito das chuvas, e quase sempre obstruídas por árvores e
pedras desbarrancadas. O trânsito marítimo também era deficiente e irregular. Os
governos estadual e municipais pouco se interessavam por essa zona do litoral,
inertes, isoladas e alheadas do então dinâmico progresso por que ocorria em outras
regiões do Estado. As terras férteis e suas praias maravilhosas permaneciam
abandonadas e desconhecidas pelos demais paulistas.
O interesse o Capitão Armond – Tomando conhecimento da situação precária da
região, Armond contatou com o prefeito Emydio Orceli e outros políticos locais e nele
brotou-se um grande interesse na construção de uma estrada de rodagem que fizesse
a ligação efetiva com o Vale do Paraiba. Começou a estudar o assunto e a pesquisar
dados e elementos para a empreitada que se anunciava.
O encontro e pedido ao General Miguel Costa – Em 20 de janeiro de 1932, ao término
das férias e no regresso a São Paulo, procurou o Comandante Geral da FPESP, General
Miguel Costa, de quem tinha relações de amizade, resumiu suas observações e seu
interesse. Convencido, o Cmt G ordenou que organizasse um plano de ação, que fosse
viável e dentro das possibilidades do Governo.
O Plano de Ação – Armond elaborou e apresentou o seguinte projeto para a abertura
de uma estrada de rodagem entre Paraibuna e São Sebastião, ligando o Planalto
Central e o sul de Minas Gerais ao Litoral Norte Paulista, calcado nas seguintes bases:
1º - Construção feita em combinação com a Secretaria de Viação do Estado,
2º - Material e Ferramentas fornecidos pela Secretaria,
3º - Mão de obra seria de soldados da Força Pública, sendo para tal criada uma
Companhia de Sapadores,
4º - Direção Geral e administração da exclusiva competência da Força Pública.
5º - A alimentação da tropa seria fornecida pelas populações interessadas.
Como o empreendimento não se configurasse como missão ou tarefa específica de
atribuição da Corporação, o projeto padeceu de grandes embaraços até a sua
aprovação final.
Aprovado o plano pelo Cmt G, Armond foi credenciado para realizar os entendimentos
com a Secretaria da Viação, Cel Mendonça Lima, e com o Diretor de Estradas de
Rodagem, João Fonseca de Camargo.
O Boletim nº 32, do Quartel General – Em 11 de fevereiro de 1932 o referido boletim
assim transcrevia: "Construção de estrada de rodagem – Como contribuição de
trabalho e participação nos interesses do povo, a Força Pública do Estado vai executar,
de combinação com a Secretaria da Viação, a construção da estrada de rodagem
"Paraibuna até o porto de São Sebastião", estabelecendo assim a ligação do litoral com
o planalto da Serra do Mar. A Força Pública, assim procedendo, confirma mais uma vez
o seu passado heroico de operosidade e de boa vontade e reafirma seus objetivos
seculares de devotamento à causa pública e à crescente grandeza de São Paulo. É
designado o Capitão Edgard Pereira Armond, do C.I.M. para assumir a direção Geral
dos serviços da referida construção".
O reconhecimento do terreno – Em 16 de fevereiro, em companhia de João Fonseca
do DER, Armond realizou pessoalmente o reconhecimento e demais estudos,
escolhendo Paraibuna, a 35 km de São José dos Campos como base inicial. Após 3,30
horas de automóvel, alcançaram a ponta extrema da estrada carroçável, na altura do
km 35. Desse ponto o Dr Fonseca regressou e Armond prosseguiu à cavalo pelo
caminho de cargueiros até Caraguatatuba, aonde chegou ao fim da tarde. Reconheceu
toda a Enseada de Caraguatatuba até a barra do Rio Juqueriquere, até a ponta do
Arpoar, Serra do Don, até o bairro de São Francisco, chegando à cidade de São
Sebastião. O reconhecimento foi feito a pé, abrindo-se picada nova, carregando
víveres nas costas e quase sempre debaixo de chuvas. Gastaram cerca de 20 dias nessa
exploração.
A opção pela construção na Serra de Caraguatatuba – Armond relatou ao General
Miguel Costa sua opção em construir na Serra de Caraguatatuba, pelas seguintes
razões:
1- Melhores condições topográfico-geológicas,
2- Aproveitamento de 42 Km carroçáveis, de Paraibuna ao Alto da Serra,
3- Descer a estrada diretamente a um local já habitado e com lavoura,
4- Conjugação da linha a construir com o Sul de Minas, por Buquira, dando aspecto
de interesse nacional,
5- Interesse estratégico, abrangendo a base naval de São Sebastião a Central do
Brasil, a rodovia São Paulo-Rio de Janeiro e os centros de abastecimento de
Paraibuna, Natividade e Salesóplis.
Tanto o Cmt G da FPESP (Gen Miguel Costa) como o Secretário da Viação (Cel
Mendonça Lima) aprovaram o plano. Este último transferiu a verba de 50 contos à
Força Pública para aquisição de ferramentas e material.
O início dos trabalhos – Em 12 de abril de 32, com 38 anos, sem contar com recursos
materiais, utilizando 15 praças da própria Força Pública, na maioria soldados prestes a
serem desincorporados, iniciou no topo da serra de Caraguatatuba, a abertura da
rodovia, começando pelo trecho mais difícil, dirigindo pessoalmente os trabalhos.
Instalou as quinze praças no Alto da Serra, e lavrou a ata oficial (anexo 1), dando como
inaugurados os trabalhos de construção da estrada pela Força Pública. Como era
reduzidíssimo e insuficiente o número de somente 15 praças da FP para executar o
serviço de tamanha envergadura, Armond lançou mão da verba de 50 contos e
contratou uma turma de cerca de 30 auxiliares civis, os quais trabalhavam juntos com
a turma militar e eram dirigidos e administrados diretamente por ele.
A suspensão da verba - Em maio, com a saída do Gen Miguel Costa do Comando da FP,
e do Coronel Mendonça Lima da Secretaria da Viação, o novo Secretário Fonseca Telles
suspendeu imprevistamente a verba concedida. Técnicos da Secretaria achavam que a
estrada deveria ser construída pela serra de São Sebastião e não, pela serra de
Caraguatatuba. Armond, junto com 14 municipalistas da região protestaram e
solicitaram e a designação de comissão para inspecionar as obras e dar parecer a
respeito. A comissão foi nomeada e composta por diretores do DER, Carlos Quirino
Simões e Aristeu Reis, juntamente com o Major Euclides Machado Chefe do Serviço de
Engenharia da FP. Inspecionado o serviço e estudado o traçado, a comissão não só
aprovou como recomendou o Secretário a conceder nova verba de 200 contos- para o
prosseguimento das obras.
A eclosão da Revolução de 32 – Em julho, com a eclosão do Movimento
Revolucionário de 32, Armond suspendeu os trabalhos, dispensou os civis, com
exceção dos cavoqueiros que trabalharam mesmo durante a revolução. A turma militar
foi enquadrada em tropas irregulares, compondo o "Grupamento Cap Armond".
Armond assumiu o comando do litoral, monitorando os movimentos da Armada que
mantinha diversos navios de guerra em São Sebastião. Organizou e comandou tropas
inicialmente em Paraibuna e Caraguatatuba e, depois no Sul do Estado em Itaí, Taquari
e Avaré. Terminado o conflito, no período de transição, foi nomeado Chefe de Polícia
do Estado de São Paulo, vindo a compor a Casa Militar do Governador Militar do
Estado, General Waldomiro Lima.
O Batalhão de Sapadores – Sessenta dias após pediu demissão daqueles cargos, sendo
designado para comandar o Batalhão de Sapadores criado para dar continuidade à
construção da estrada. Conseguiu sensibilizar o governo para que lhe desse os meios
necessários. Em 8 de dezembro deixou o cargo de Ajudante de Ordens do General
Waldomiro Lima, sendo designado para organizar o Batalhão. Em 9 assumiu o
comando interino. Em 25 os integrantes da 2ª companhia estavam concentrados no
Alto da Serra. Em 4 de fevereiro fixou a sede do Batalhão e da 3ª Companhia em
Paraibuna. Os efetivos foram assim distribuídos:
1ª Cia. 120 homens – Trecho Rio Ouro –Alto
2ª Cia. 130 homens – Trecho Alto – Rio Ouro
3ª Cia. 120 homens – Trecho Paraibuna – Alto.
Em 14 de fevereiro assumiu o comando do Batalhão o Ten Cel Júlio Limeira da Silva, do
Exército Nacional, permanecendo até fins de julho. Com a saída do Ten Cel Limeira,
Armond assumiu novamente o comando do Batalhão, até a designação do Ten Cel
Salvador Moya.
A 4ª Companhia de Sapadores – Em 18 de setembro o Cmt G da FP criou a 4ª
Companhia Independente de Sapadores (CIS), desagregada do Batalhão de Sapadores,
dando o seu comando ao Cap Armond, para com autonomia administrativa de Cia
Isolada, com a missão de prosseguir na construção da rodovia de Paraibuna ao Porto
de São Sebastião.
Em 1935, a 4ª Companhia anexada ao Regimento de Cavalaria, denominada
Companhia de Sapadores era formada pelos seguintes oficiais:
- Comandante: Capitão Edgard Pereira Armond,
- Ajudante Secretário: 2º Tenente Artur Goisolfe de Castro
- Cmt. De Seção: 1º Tenente Heli Fernandes Da Câmara
- Cmt. De Seção: 2º Tenente Acácio Silva
- Cmt. De Seção: 2º Tenente João Pereira da Cruz
- Médico: Geraldo Ribeiro
Estado da obra em fevereiro de 1933 –
- No Alto da Serra:
-estrada já aberta, com 3 metros de largura, com rampa de 8%, dependendo só de
alargamento.
-extensão locada definitivamente ................................................. 2030 metros,
-extensão atacada .......................................................................... 1600 "
- extensão alargada com 5 metros ..................................................... 1600 metros.
-Efetivo empregado – homens em média ..........................................................170
Em Caraguatatuba:
-extensão locada provisoriamente com 2 metros de largura ........... 6850 metros
-extensão locada definitivamente ..................................................... 3600 "
-extensão alargada para 5 metros .................................................... 3150 "
- extensão atacada ............................................................................. 10450 "
-Efetivo empregado – homens em média ............................................ 100
Os Relatórios dos Serviços – Armond relatava periodicamente ao Comandante Geral
da FP as atividades efetuadas e o progresso na construção da estrada.
- 1º Relatório - ao Cel Dimas Siqueira Menezes, Cmt G da FP - em Fevereiro de 1933
- 1º Relatório – ao Cel Alkindar Pires Ferreira, Cmt G da FP - em Agosto de 1933
- 2º Relatório – ao Cel Penedo Pedro, Cmt G da FP - em Dezembro de 1933
- de dezembro de 1933 a agosto de 1934, data da suspensão dos serviços da
Companhia de Sapadores, Armond encaminhou relatórios mensais a serem arquivados
no Comando Geral. Em fins de 1934 foram suspensos os trabalhos da turma militar
para, segundo Armond, "satisfazer injunções políticas e dar empreitadas a
interessados".
4. EDGARD PEREIRA ARMOND E O MOVIMENTO ESPÍRITA
Armond teve um papel fundamental na história do Espiritismo, participando de todos
os grandes momentos do movimento espírita. Foi maçom, professor e espírita
brasileiro. Em 1921, quando comandante na cidade de Amparo, ingressou na
maçonaria, alcançando o grau de mestre. Sua conversão se deu após sofrer o grave
acidente automobilístico, em junho de 1938, onde quebrou ambos os joelhos sendo
submetido a diversas cirurgias, ficando sem quase poder andar por seis meses. Foi
convidado por Bezerra de Menezes a colaborar com a Casa dos Espíritas do Brasil
sendo eleito secretário geral da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Fundou o
periódico "O Semeador" difundindo as ideias doutrinárias, no qual sob pseudônimos
escreveu cerca de quatrocentos e vinte e cinco artigos. Em 1947 fundou a União Social
Espírita (USE), posteriormente denominada de União das Sociedades Espíritas,
fortalecendo o movimento espírita e unificando as suas práticas religiosas. Em 1950
criou as Escolas de Aprendizes do Evangelho, com cursos previstos por Allan Kardec em
"Obras Póstumas", criou a metodologia dos passes e instituiu as Escolas de Médiuns.
Era um médium intuitivo, parecido com Kardec. Em 1973, com alguns companheiros,
fundou a Aliança Espírita Evangélica. Armond formou-se em odontologia pela Escola
de Odontologia e Farmácia do Estado abrindo escritório no Brás, atendendo
voluntariamente pessoas necessitadas.
5. O RECONHECIMENTO AO CEL ARMOND –
A abertura da estrada propiciou o desenvolvimento daquela região, até então quase
inacessível, beneficiando certamente a população sofrida de Paraibuna, Natividade da
Serra, Salesópolis, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela, que não tinham
sequer condições mínimas de atendimento médico hospitalar e sem condições de
transporte para outros locais. O Cel Armond teve seu trabalho reconhecido, sendo que
São Sebastião deu seu nome a uma das ruas da cidade. O Governo do Estado, através
do Decreto Estadual de 29 de setembro de 1993 e através da Polícia Militar, adotou o
se nome como patrono do 20º Batalhão da Polícia Militar do Interior, inicialmente
sediado em São Sebastião e hoje, com sede em Caraguatatuba. Em março de 1997 o
jornal "O Ancoradouro" de São Sebastião publicou matéria sob o título: "Edgard
Armond: o homem que colocou o litoral norte no mapa", concluindo que aquela bela
região mergulhada em amplo isolamento até o começo da década de 1930 teve
profundas mudanças, libertando-se do seu esquecimento, mudando o estado de coisas
em consequência da iniciativa da personalidade inteligente e arrojada do Coronel
Edgard Pereira Armond. Várias cidades têm ruas com seu nome, São Paulo, São
Sebastião, Guaratinguetá.
6. ARMOND – ORADOR E ESCRITOR
. 1931 – Discurso (anexo 2). Em 24 de outubro de 1931 proferiu brilhante discurso na
sede da Liga de Esportes, primeiro aniversário do triunfo da Revolução Nacional, no
ato de entrega ao General Miguel Costa de uma espada de ouro, homenagem da
oficialidade da Força Pública Paulista.
. 1931 – Lições de Topografia Ligeira.
. 1942 – Contribuições ao Estudo da Mediunidade.
. 1943 – Mediunidade de Prova.
. 1944 – Desenvolvimento Mediúnico.
. 1944 – Missão Social dos Médiuns.
. 1949 – Os Exilados da Capela.
. 1950 – Passes e Irradiações.
. 1962 – Na Cortina do Tempo.
. Pela internet é possível acessar cerca de 227 títulos de livros escritos por Edgar
Pereira Armond
7. A ATUAL RODOVIA DOS TAMOIOS -
Foi oficialmente inaugurada em 1938 como "obra civil".
Em 1957, no Governo Jânio Quadros, a rodovia foi pavimentada, pois em época de
chuvas, antes do asfalto, a estrada ficava praticamente intransitável.
Em 1970, o DER executou significativos melhoramentos de traçado (planta e perfil)
entre São José dos Campos e Paraibuna.
Em 2014 o trecho do planalto da serra, entre o Km 60,4 e 82, foi duplicado.
A partir de 16 de abril de 2015, a Rodovia dos Tamoios que era administrada pela
DERSA, passou a ser operada pelos próximos 30 anos pela Concessionária Tamoios,
empresa pertencente ao Grupo Queiroz Galvão. O Governador Geraldo Alkmin ao
autorizar a transferência assim se pronunciou: "A rodovia liga o eixo mais
industrializado do mundo; o eixo Rio-São Paulo com o litoral norte, lugar que mais
cresce com o turismo, com a estação do pré-sal em Caraguatatuba e o porto de
Santos".
A Estância de Caraguatatuba e o D.E.R. erigiram um monumento em bronze, na Praça
do Centenário, na entrada da cidade, homenageando o engenheiro Dr. João Fonseca
de Camargo e Silva.
O DER, órgão da Secretaria de Logística e Transportes, cita em seu site "Histórico de
Rodovias" que a SP 099 foi construída pelo DER.
A denominação "Rodovia dos Tamoios" foi dada através da Lei 1796, de 18/10/1978, e
constitui referência histórica ao nome de uma tribo indígena que habitava o litoral
norte do estado e o litoral fluminense.
8. CONCLUSÃO
Lamentável, injusta e inexplicavelmente; nenhuma citação à Força Pública, às suas
Unidades de Sapadores e ao Coronel Edgard Pereira Armond, sem nenhuma
referência ao esforço, dedicação, boa vontade e ao suor do soldado que ali lutou e
sofreu nos trabalhos mais pesados, pioneiros e primeiros responsáveis pelo traçado
e maior parte da construção daquela rodovia, que bem poderia ser chamada de
"Rodovia Comandante Armond".
9. Anexos:
a. – Ata do início dos trabalhos da construção da estrada.
b. - Discurso ao General Miguel Costa
c. - Fotos do Coronel Armond
d. - Fotos e reportagens
10. Bibliografia
. No Tempo do Comandante – Edelso da Silva Júnior.
. Filme "Edgard Armond – A influência de Edgard Armond no Movimento Espírita".
. ARMOND, Ismael. Edgard Armond, meu pai. São Paulo: Editora Aliança, 2001.
. Armond, Ismael. Edgard Armond: Um Trabalhador da Seara Espírita. São Paulo:
Editora Aliança, 2002.
. Jornal Espírita "O Trevo". São Paulo: Editora e Distribuidora Aliança, nºs 106, 1982.
- Relatórios e documentos do Cap Armond.
Nazaré Paulista, 20 de setembro de 2015.
oscarpinheiro@terra.com.br
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